Existe um descompasso de expectativas nas previsões sobre a economia brasileira. Na sexta-feira passada, mesmo dia em que o governo anunciou a redução de expectativas de crescimento do PIB para este ano (de 4,5% para 3%), o presidente da Fiat, Cledorvino Belini, dizia em São Paulo, que os planos de investimento da montadora – que incluem a construção de uma nova fábrica em Pernambuco – estão mantidos.
Isso foi dito numa conversa informal, durante o evento de lançamento do novo Punto – um dos carros da montadora. Mas, na hora do discurso, Belini não falou apenas do automóvel.
Aproveitou para acrescentar a sua às críticas que têm sido feitas ao modelo fiscal brasileiro. A empresa, beneficiada como as demais montadoras pela redução do IPI, viu as vendas aumentarem e os estoques voltarem para o nível da normalidade.
Mesmo assim, ele deseja o mesmo que outros empresários da indústria: uma política fiscal que crie um estímulo permanente à manufatura brasileira.
O governo tem se pautado por uma ação que parece contraditória. A decisão de baixar de tempos em tempos as alíquotas dos impostos sobre automóveis, eletrodomésticos da linha branca e outros artigos equivale, na prática, ao reconhecimento formal de que os tributos são excessivos e prejudiciais à produção.
Mesmo assim, Brasília não propõe um modelo que desonere a produção não como um benefício transitório – mas como uma solução que permita, inclusive, o planejamento de longo prazo das empresas.
Mesmo assim, o Brasil continua sendo visto pelas empresas como um mercado interessante e a prova disso é que a maioria dos planos de investimento anunciados nos anos anteriores está mantida.
Na prática, essa é a régua com a qual se mede o tamanho da aposta das companhias num mercado que, apesar dos pesares, continua inspirando confiança.
Em outras palavras, o que se pode concluir a partir da decisão das empresas é a de que, mesmo com o cenário atual, o Brasil continua valendo a pena. É claro que poderá valer ainda mais a pena se houver uma mudança de postura por parte das autoridades e a percepção de que a sociedade quer ser ouvida e dar sua contribuição.
Anos atrás, Belini foi encarregado pela direção mundial da Fiat para implantar uma fábrica de componentes da Magneti Marelli no estado americano do Tennessee.
Antes da inauguração da planta, ele foi convidado pela comunidade local para falar sobre o projeto, numa solenidade que contou com a presença de um senador. O que mais o impressionou naquele encontro foi que as pessoas da comunidade, ao se dirigir ao senador, faziam sugestões e críticas que tinham a ver não com os interesses imediatos, mas com projetos de longo prazo.
Inclusive questões que tinham a ver com a realidade fiscal. O Brasil terá muito a ganhar no dia em que a sociedade, como um todo, se convencer que o problema fiscal não é um assunto chato, que diz respeito apenas a meia dúzia de iniciados que insistem em apontar o dedo na direção do problema.
Mas, ao contrário, algo que diz respeito a todo cidadão, que tem o direito de cobrar diretamente do governo e do Congresso que as coisas sejam feitas de uma forma diferente.
Fonte: Brasil Econômico, 23/07/2012
O mercado brasileiro de automóveis é onde se pratica os maiores preços para os consumidores que pagam com taxa de juros altíssimas modelos com baixa tecnologia. A “proteção” que as montadoras recebem em termos de tarifas para conter as importações é a maior do planeta! Claro que o consumidor com nariz de palhaço paga tudo! Será que se reduzirem as tarifas de importação “elles” vão continuar tagarelas?
Com um mercado totalmente protegido com altas tarifas de importação e um governo complacente com impostos como IPI, as montadoras amparadas no cartel da ANFAVEA, faturam no Brasil o maior lucro do setor….