Os mercados emergentes vêm experimentando um comportamento de forte valorização dos ativos, para muitos irracional, nas últimas semanas. Antecipando a perspectiva de melhora das economias ainda neste ano, as bolsas de valores destes países vêm avançando bem acima das dos países ricos, numa sinalização e antecipação de resultado.
Neste ano de 2009 o Ibovespa já subiu mais de 40%, assim como a Bolsa da Índia avançou 64% em três meses, e a chinesa, a bolsa de Xangai, 37%. Enquanto isto, até o dia 4 de junho, nos EUA, o Dow Jones estava, praticamente, estável neste ano, com pequena queda de 0,3%, a bolsa de Londres recuava 1,0%, a de Paris subia 2,9% e a de Tóquio 9,1%. Ou seja, observa-se um certo “descolamento” entre as bolsas dos emergentes e às dos países ricos, o que nos leva a prever que os primeiros devem reagir primeiro que os países ricos. Isto porque as bolsas de valores acabam se tornando uma bússola do que vem por aí, se antecipando aos acontecimentos dos próximos meses.
No caso brasileiro, o influxo de recursos para o Ibovespa vem sendo intenso. Em maio, por exemplo, o saldo foi recorde, em cerca de US$ 6,08 bilhões, com compras de ações no total de US$ 43,07 bilhões e venda de US$ 36,99 bilhões, o melhor saldo da história da bolsa paulista. Com este bom saldo, o ingresso de investidores externos na bolsa de valores acumula US$ 11,2 bilhões no ano.
Muitos consideram toda esta euforia temerária, diante de um cenário ainda não muito claro de recuperação da economia global. O pior da crise já ficou para trás, mas uma retomada firme e consistente ainda não parece certa. Sendo assim, observa-se, de fato, este descolamento das bolsas dos emergentes em relação aos ricos, mas no nosso caso particular é importante lembrar nossa taxa de juros, próxima a 10%, enquanto que a taxa balizada entre os países ricos está próxima a 1% anual. Ou seja, nossa taxa de juros é extremamente atrativa, o que vem aumentando o ingresso de investidores externos para arbitragem, em muitos casos migrando dos títulos públicos norte-americanos para ativos de maior risco, embora com maior perspectiva de retorno no curto prazo.
Por outro lado, no nosso cenário doméstico, os indicadores econômicos, embora melhores, ainda não mostram, com clareza, uma retomada firme ao fim deste ano.
Pelo lado da indústria, pela PIM, em abril a indústria nacional avançou 1,1% contra março, em muito pelos estímulos de isenção fiscal adotados, o que alavancou a produção de automóveis e de eletrodomésticos.
Com isto, a produção de bens duráveis acumulou alta de 48,7% nos dados mensais deste ano, contra igual período do ano passado, embora tenha recuando 22% nos dados anuais. Já os bens de capital seguem negativos, o que é um demonstrativo de que os sinais positivos do governo de nada valem se os investidores ainda não estiverem confiantes sobre os rumos da economia neste ano. Isto é, o chamado animal spirits dos empresários, a força criativa e a segurança para a tomada de decisões por novos investimentos ainda não deslanchou. Contra o mesmo mês do ano passado, a produção de bens de capital acusa queda de 29,3%, acumulando no ano queda de 22,6% e em 12 meses de 0,2%.
Pelo lado das vendas reais, segundo a CNI, a queda foi de 1,9% em abril contra março, o que mostra ainda um processo de redução de estoques, impactando no desempenho da indústria, além do tombo das exportações. Neste caso, observa-se que a produção vem reagindo, mesmo que lentamente, em função da força da demanda interna. Uma boa notícia é o avanço no Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci), pelo terceiro mês seguido, em abril próximo a 78,7%, o que é a confirmação desta redução dos estoques.
Pelo lado fiscal, observa-se um saldo primário em deterioração, decorrente da perda de fôlego da arrecadação e do desempenho preocupante das despesas com custeio. Já pelo lado das contas externas, alguma reação acontece, em decorrência da melhora da balança comercial. Neste contexto, observa-se um aumento do saldo pelo recuo maior das importações do que das exportações. Estas acabaram impactadas pelo recuo das vendas do minério de ferro em maio contra abril (-42,7%), em função das negociações entre siderúrgicas chinesas, canadenses e brasileiras.
Com isto, o saldo comercial no mês acabou em US$ 2,65 bilhões, com as exportações recuando 2,7% contra abril e as importações avançando 8,4%. Contra o mesmo mês do ano passado, as primeiras recuaram 37,9% e as segundas 38,7% e no ano, quedas de 22,2% e de 26,6%, respectivamente, diante de um saldo comercial avançando 10,4% no ano.
Ao fim deste ano, estamos prevendo um saldo comercial em tênue recuperação, com previsão de US$ 21 bilhões, devendo ser impulsionado pela venda externa de commodities.
Observa-se daí que a economia doméstica vem experimentando uma lenta recuperação. Os dados do PIB do primeiro trimestre, por exemplo, saindo agora no dia 9, devem ter mostrado uma forte queda contra o mesmo trimestre do ano passado e contra o trimestre anterior, mostrando o “fundo do poço” da crise, ainda mais com a produção industrial recuando acima de 15% no período, mas alguma retomada já vem ocorrendo, o que nos leva à perspectiva de um segundo trimestre melhor no desempenho do PIB. Neste cenário, no primeiro trimestre o PIB deve recuar 2% contra o trimestre anterior e 3% contra o mesmo trimestre do ano passado.
No panorama dos países ricos, os indicadores mostram sinais contraditórios, alguns melhores outros piorando. O PIB da zona do Euro, no primeiro trimestre, por exemplo, veio negativo em 2,5% contra o trimestre anterior, despencando 4,8% contra o mesmo período do ano passado. Para o ano, as expectativas indicam uma retração de 4%. Já nos EUA, o PIB deste mesmo período veio negativo em 5,7%, melhor do que a prévia anterior (-6,1%), mas ainda bem negativo.
Sugere-se destes vários indicadores, portanto, que o Brasil e os emergentes devem sair da crise primeiro que os ricos, mas esta retomada será mais lenta do que o antes projetado. Talvez possamos ver algum crescimento entre o terceiro e o quarto trimestre, mas nada que seja tão entusiasmante assim. No máximo, deveremos fechar este ano com o PIB próximo à estabilidade, sendo otimismo vislumbrar uma taxa acima de 3% em 2010.
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