Os analistas políticos parecem concordar que a economia terá grande influência no resultado das eleições deste ano. Em especial, a liderança da candidata oficial nas pesquisas de intenção de voto é atribuída à satisfação do eleitor com o bom momento da economia, com o PIB crescendo mais de 7% este ano, o desemprego em níveis historicamente baixos e a inflação relativamente sob controle.
Paradoxalmente, porém, o eleitor irá este fim de semana às urnas sem ter visto uma discussão mais séria sobre o que os candidatos pensam fazer para garantir que, apesar do cenário externo conturbado, o país tenha bom desempenho econômico no próximo quadriênio. Há três grandes questões que deveriam estar sendo tratadas.
A primeira delas refere-se à manutenção do tripé de política macroeconômica estabelecido no governo FHC: câmbio flexível, meta de inflação perseguida por um Banco Central operacionalmente autônomo e metas fiscais, em especial para o superávit primário. Há uma presunção de que o eleito, quem quer que seja ela ou ele, será obrigado a adotar essa política, sob risco de gerar uma crise e perder sustentação política.
Esse argumento é apenas parcialmente válido. Por exemplo, a disciplina fiscal foi bem maior no primeiro mandato do presidente Lula do que no segundo, quando os dois principais indicadores acompanhados pelo mercado — o superávit primário e a dívida líquida do setor público — perderam muito de sua significância, a partir da adoção de mecanismos que descolaram os valores contábeis de seu impacto econômico, sem que o mercado esboçasse qualquer reação. Esses mecanismos continuarão a ser utilizados se a candidata oficial for eleita? Da mesma forma, o principal candidato de oposição já afirmou que pretende reduzir a autonomia do Banco Central; quais as implicações disso?
Pode-se ainda perguntar o que pensam os candidatos a respeito da meta de inflação, estacionada há anos em 4,5%, e que vários economistas defendem que deva ser reduzida para algo como 2% ou 3%. A candidata do PV parece a mais confortável com a manutenção do tripé na sua forma original, mas estará ela disposta a reduzir gradualmente a meta de inflação?
Uma segunda questão concerne a trajetória explosiva dos gastos públicos, que há anos crescem cerca do dobro do PIB, e o seu corolário, a elevada carga tributária, que também não poderá deixar de aumentar enquanto não se colocar um freio à expansão do gasto. A política fiscal expansionista, agora marcadamente pró-cíclica, é um das principais causas do alto juro básico que caracteriza a economia brasileira e da apreciação cambial observada nos últimos anos.
Esse mix de política econômica — impostos elevados, juros altos e câmbio apreciado — compromete a competitividade da indústria brasileira e ajuda a explicar porque o setor vem perdendo participação no PIB. O que pensam os candidatos sobre isso? A candidata oficial já expressou sua visão de que não há necessidade de ajuste fiscal, e no passado se manifestou contrariamente a controles sobre a expansão do gasto, mas estará ela igualmente confortável com o aumento da carga tributária e a valorização do real? O candidato do PSDB tem histórico de contenção de gastos correntes nas suas administrações em São Paulo — irá ele repetir isso em nível federal?
Um terceiro, não menos relevante, tema diz respeito às reformas que o país necessita para tornar-se mais competitivo e, em especial, promover o investimento. Como se sabe, o crescimento brasileiro está limitado pela nossa baixa taxa de investimento — 17%, 16,7% e 17,5% do PIB nos últimos 16, oito e quatro anos, respectivamente —, por sua vez restrita pela baixa taxa de poupança do país. O Brasil não conseguirá manter um ritmo de crescimento muito acima de 4% ao ano sem elevar essa taxa de investimento, principalmente porque, nos próximos anos, a população ocupada crescerá menos que os 2,4% ao ano observados no último sexênio. De fato, o IBGE prevê que na próxima década a população com idade entre 15 e 64 anos irá aumentar apenas 1,2% ao ano. Quais as propostas dos candidatos para elevar o investimento?
Não surpreende que o debate eleitoral tenha focado no passado. A verdade, porém, é que os políticos a serem eleitos no próximo domingo, da Presidência da República às assembleias legislativas, não irão mudar o passado, mas comandar o país nos próximos quatro anos. É uma pena, portanto, que o eleitor tenha de escolher sem saber o que eles pretendem fazer se vierem a ser eleitos.
Fonte: Jornal “Correio Brasiliense” – 29/09/10
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