Época – 26 de março de 2007
Alan Greenspan, o ex- Todo Poderoso Presidente do banco central norte americano, o FED (Federal Reserve Board) recentemente afirmou que é alta a probabilidade de uma recessão no próximo ano. Mas, em contraste com suas manifestações na encarnação anterior, os mercados não tomaram o aviso muito a sério.
O mundo sempre esteve sujeito a flutuações econômicas. No século XIX elas pareciam tão recorrentes, e parecidas, que muitos observadores desenvolveram teorias, de variada qualidade, sobre sua forma, seus determinantes e, sobretudo sua inevitabilidade. Muitas dessas “teorias” sobre o “ciclo econômico” pareciam misturas de trigonometria e senso comum, segundo as quais, na essência, tudo que sobe, tem que descer, e o que caiu, está barato, tem que subir.
Quase todas essas teorias foram abandonadas depois de 1929. A Grande Depressão, uma espiral descendente sem paradeiro não cabia neste modelo. E em seguida, com os efeitos econômicos do rearmamento e do que se convencionou chamar de “Revolução Keynesiana”, verificou-se a situação inversa, o mundo teria descoberto que políticas governamentais poderiam neutralizar esses supostos pendores cíclicos, e que a prosperidade podia ser permanente, ainda que irregular.
É claro que as flutuações econômicas não desapareceram, mas o formato parece bem outro. Modernamente, o assunto passou a ser muito mais meteorológico que matemático. Na essência, hoje se aceita que a economia é um sistema complexo, que evolui de forma irregular em resposta a choques, pequenos, médios e grandes, em todas as direções, ocorrendo todo o tempo, inclusive, produzidos pelo governo, geralmente com o intuito de estabilizar a economia.
O resultado é que este tipo de sistema – a palavra “complexo” se aplica a diversos outros tipos de situações, como o clima, por exemplo – é, por natureza, “imprevisível”.
Muita gente acha que a economia não tem propriamente “leis” por que os economistas não conseguem acertar suas previsões. Bobagem. Isso é o mesmo que dizer que as leis da física são furadas por que os cientistas não conseguem prognosticar a chuva, e menos ainda os furacões. Einstein não seria capaz de fazer previsões climáticas, não obstante, uma de suas observações mais famosas sobre a suposta “imprevisibilidade” de certos fenômenos físicos era justamente a de que “Deus não joga dados”.
É claro que as leis econômicas funcionam, tal como as da física, para o desespero dos curandeiros e “explicadores” que existem por aí, e cujo ganha-pão depende de as pessoas acreditarem no acaso ou na sorte em assuntos de economia. O acaso é o que iguala o economista ao astrólogo.
Pois bem, esta vã filosofia sempre se repete em momentos como este, onde o ciclo econômico é flagrantemente desafiado, a prosperidade, sobretudo nos EUA, está durando muito tempo, já era para ter havido uma recessão ou crise, pouco importa a sua natureza. Começa a haver certa hipersensibilidade ao noticiário, aos indicadores que saem quase todos os dias, e a qualquer pequena indicação de mudança na direção do vento.
Começa, também, a haver oportunismo, vale dizer, começamos oráculos a projetar recessões por razões meio vagas. Se acontecer, será um bilhete premiado, se não acontecer, algum fato novo sempre poderá ser invocado para explicar o adiamento do inevitável.
Ora, se os economistas já erram inevitavelmente por que o assunto é “complexo”, como no caso do clima, quando fazem previsões sinceras, imaginem quando suas manifestações adotam “viés pessimista” decorrente de “hedge intelectual”. Daí deriva o fenômeno segundo o qual os economistas previram 10 das últimas 5 recessões dos últimos 20 anos.
O pessimismo é muito popular entre analistas, inúmeras carreiras foram brilhantemente construídas em cima de previsões de catástrofe sempre condicionais, sempre oferecendo uma porta de saída ao profeta.
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