“O desempenho do comércio foi fundamental para que o país pudesse resistir bem à crise, uma vez que o consumo responde por 60% do PIB.” Thadeu de Freitas.
Mais uma semana de touro (bullmarket) nos mercados. Com o volume forte de investidores estrangeiros, o Ibovespa atravessou mais um período de boa alta, rompendo os 66 mil pontos, embora os mais cautelosos já comecem a enxergar alguma realização.
Por aqui, o consumo continua sustentando o crescimento da economia brasileira e assim será nos próximos meses. No primeiro semestre deste ano, o consumo das famílias cresceu 2,3%, devendo avançar 3,4% no ano como um todo, sendo que em 2008 esta expansão foi de 5,4%. Enquanto isto, o PIB geral recuou 2,1% no primeiro semestre, impactado mais diretamente pela retração das contas externas e dos investimentos. Representando cerca de 60% do PIB, este indicador macroeconômico, o consumo das famílias, vem segurando a economia brasileira nestes tempos de crise. Grande vem sendo a contribuição do mercado de trabalho, não tão castigado, assim como o nível de renda preservado, a maior oferta de crédito na economia e as transferências fiscais, com o aumento dos gastos de custeio.
Sobre o volume de crédito, em agosto o crescimento foi de 1,5% contra o mês anterior, totalizando 19,5% em 12 meses e 45,2% do PIB, com muitos já sinalizando um volume em torno de 50% em 2010, caso esta expansão se mantenha no atual patamar (20%). Lembremos que este volume ainda está bem aquém da média mundial, entre 70% e 80% do PIB.
No mercado de trabalho, as boas notícias também são alvissareiras, já que a taxa de desemprego vem se mantendo em trajetória de queda, em torno de 8% da PEA, com os dados do Caged mostrando boa recuperação, revertendo as perdas do final do ano passado.
Por outro lado, é pelo lado do setor fiscal que as preocupações aparecem, já que a trajetória das despesas correntes continua crescente, nestes primeiros oito meses do ano acima de 12%, na sua maioria, concentrados em despesas de custeio, tendo pessoal como destaque. Os investimentos públicos, embora reagindo, continuam em patamar bem inferior.
Neste ponto surge um dos pontos nevrálgicos desta recuperação da economia brasileira. O volume de investimentos, em relação ao PIB, fechou no segundo trimestre em torno de 16,2% do PIB, bem aquém do necessário para um crescimento sustentável acima de 5% no longo prazo, estimado entre 23 e 25% do PIB. Como as projeções de mercado já indicam um crescimento do PIB em torno de 4,5% a 5,0% para 2010, dúvidas já começam a aparecer sobre os riscos inflacionários aí embutidos, dada a resposta mais lenta da oferta diante de uma demanda crescendo rapidamente. Pelo lado do Nível de Utilização da Capacidade Instalada isto parece bem claro, ainda em 81%, mas com alguns setores já em níveis próximos a 90%, como no caso dos Bens Duráveis (88,9%) e Material de Construção (89,3%). Tecnicamente, acima de 90% de capacidade já indicaria um nível próximo à plena utilização de recursos. Com isto, o repasse de custos de insumos acabaria ocorrendo.
Sobre o segmento de bens duráveis, incluindo aqui a “linha branca”, o que se comenta é que a isenção do IPI não deve se manter nos próximos meses, visto que a recuperação deste setor vem se consolidando sem problemas, inclusive por ser sensível ao crédito, com fortes ampliações nos prazos de financiamento. Além do mais, muitos consideram que o fim do IPI não deve trazer grandes solavancos nas vendas deste segmento, já em firme retomada.
Isto pode ser visto pelos dados do varejo em agosto passado. Por estes, as vendas avançaram 0,7% contra julho, 4,7% contra o mesmo mês de 2008, mesmo patamar no acumulado ao ano e 5,4% no acumulado em 12 meses.
A corroborar para este bom desempenho, a evolução favorável da massa de rendimentos dos trabalhadores, beneficiando as vendas de bens não-duráveis, segmento ileso da crise; a maior oferta de crédito, mais concentrada em consignado; os reajustes de salário mínimo, beneficiando os benefícios dos pensionistas, e a redução da taxa de juros básica, assim como o aumento dos gastos públicos. No bom desempenho do segmento de não-duráveis observamos as vendas de Hiper, Supermercados, alimentos, bebidas e fumos, com expansão de 2,1% em agosto contra julho, 11,4% contra o mesmo mês do ano passado, 13,6% no ano e 14,3% no acumulado em 12 meses.
Em adição, a recuperação da confiança dos consumidores, as melhores condições de crédito para as famílias e a isenção fiscal para a linha branca beneficiaram as vendas de bens duráveis, que alcançaram a quarta alta consecutiva em agosto.
Outro segmento em destaque foi o de artigos farmacêuticos – menor peso na pesquisa do que os supermercados -, registrando o melhor desempenho entre as atividades pesquisadas em agosto, com aumento de 14,9% no mês deste contra igual do ano passado. Por estes dois segmentos – supermercados e farmácias – venderem artigos básicos, de primeira necessidade, as vendas do varejo acabaram pouco afetadas nesta crise.
Por sua vez, na análise do Comércio Varejista Ampliado, que inclui dois segmentos além dos considerados no comércio varejista – veículos, motos, partes e peças e materiais de construção -, a alta foi de 5,5% contra agosto de 2008 e de 3,3% contra o mês anterior.
Por setores, contra o ano passado, o principal impacto sobre a taxa global ampliada veio das vendas de veículos, motos, partes e peças, que subiram 9,4%, acumulando no ano e nos últimos doze meses taxas de 4,4% e 2,4%, respectivamente, contribuindo com 3,1 ponto porcentual para o crescimento global. A redução do IPI vem incentivando as vendas de automóveis, afetadas a partir do último trimestre de 2008 pelas restrições de crédito.
Nos dados de agosto a contribuição negativa veio do grupo Material de Construção, com queda de 6,9%. Devemos destacar que as medidas oficiais de incentivo à construção civil e o aumento de renda não influenciaram positivamente no volume de vendas do setor. Outro segmento em queda, Tecidos, Vestuário e Calçados (-5,8%), continua prejudicado pelo aumento dos preços. Por fim, o segmento de Combustíveis e lubrificantes (-5,1%) continuou apresentando resultados negativos.
Neste cenário é provável que as vendas de varejo devem se manter em trajetória favorável, com expansão de 5,5/6,0% em 2009 e 7,0% em 2010. A corroborar para esta alta no ano que vem os vários reajustes de aposentados, o salário mínimo registrando outro grande reajuste, acima de 3%, a Copa do Mundo, aquecendo o mercado de duráveis (eletroeletrônicos), e as eleições com os gastos correlacionados. Com isto, projeta-se uma injeção de renda na economia brasileira em torno de R$ 90 bilhões, bem acima da registrada em 2009, em torno de R$ 85,3 bilhões.
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