Conseguir um crescimento equilibrado parece ser o grande desafio das economias emergentes. Isto porque nem sempre é possível manter um grande volume de investimentos, compatível com o ritmo de expansão do consumo, tanto privado como do governo. No fim, sempre acaba ocorrendo um desbalanceamento entre estas duas variáveis chaves, investimentos e consumo.
Este último cresce mais rapidamente, com os investimentos tendo um longo e gradual processo de maturação, o que obriga os bancos centrais a intervirem através de políticas monetárias mais cautelosas.
No caso brasileiro isto parece bem claro, até porque no caso do consumo agregado o privado vem evoluindo bem, estimulado pelo crédito, pelos ganhos de renda e pelo horizonte mais previsível da economia. O problema é o consumo do governo, que não vem seguindo as regras básicas dos manuais de boa gestão pública, se notabilizando pelo aumento maior das despesas de custeio, com a manutenção da máquina pública, mas com os investimentos públicos muito aquém do necessário.
Observa-se uma economia que acabou recuando 0,2% no ano passado, com os investimentos mergulhando 9,9% e o consumo das famílias crescendo 4,1%, com os do governo respondendo com 3,7%. Em 2009 tivemos um surto recessivo de dois trimestres, entre o quarto de 2008 e o primeiro de 2009, amenizado pela pronta intervenção do setor público. Foram três os fatores a influenciar o ambiente econômico no ano passado: pronta atuação da autoridade monetária, liberando compulsório e reduzindo a taxa de juros; forte atuação dos bancos públicos, que conseguiram suprir a escassez de crédito privado, garantindo, inclusive, as operações dos bancos menores e a continuidade do crescimento exuberante da China, o que acabou amortecendo um pouco as perdas do nosso fluxo de comércio.
Sim, recuamos no ano passado, – inclusive, dentro das estimativas desta Consultoria – mas menos do que muitos outros países, como os EUA, que recuaram 2,4%, a França (-2,2%), o trio europeu Espanha, Reino Unido e Itália, recuando 5%, ou mesmo a Rússia, mergulhando 7,9%. Ou seja, acabamos com um dos melhores desempenhos entre o G20. Méritos devem ser dados à qualidade das políticas públicas levadas a cabo.
No entanto, é preciso estar atento ao desempenho dos nossos indicadores macroeconômicos, olhando-os com atenção, pragmatismo e sem politização. Recuamos menos do que as principais economias mundiais, deveremos crescer bem em 2010, mas será este crescimento sustentável no longo prazo? Esta é a indagação a ser feita neste momento.
Diante do recuo na renda e nos investimentos em 2009, o consumo avançou bem, o que acabou reduzindo a taxa de poupança da economia brasileira, qual seja a chamada “renda não consumida”, de 18% para 14,6% do PIB, com a taxa de investimentos despencando de 18,7% para 16,7%. Com a poupança doméstica se mostrando insuficiente, não restou outra saída a não ser recorrer às importações de bens e serviços, o que fez com que o País fechasse 2009 com grande absorção de poupança externa, jogando o déficit em conta corrente às alturas, com US$ 24,34 bilhões em 2009, devendo passar de US$ 40 bilhões neste ano de 2010.
A partir do segundo semestre do ano passado ocorreu uma retomada da economia, com o investimento vindo a crescer 6,6% no quarto trimestre, assim como a Indústria (4%), até porque no ano esta despencou 5,5%. Com isto, ao fim do ano, o PIB nacional chegou a crescer 2% no quarto contra o terceiro trimestre, o que deve gerar um carry over para 2010 em torno de 2,8%. Ou seja, mesmo que a economia brasileira não consiga avançar neste ano ainda terá as sobras de 2009, com um crescimento em torno de 2,8%.
Claro que não é isto que ocorrerá, até porque os dados deste início de ano, como na produção industrial, confiança dos agentes, vendas de varejo, volume de investimentos, entre tantos, indicam uma forte retomada da economia. Estimativas desta Consultoria indicam crescimento em torno de 5,4% neste ano, puxado fortemente pelo PIB da Indústria, crescente acima de 7%, e do setor agrícola, até pela safra recorde prevista.
Difícil, no entanto, será compatibilizar crescimento forte, puxado pelo consumo agregado, com a capacidade de resposta da produção, dos investimentos e das importações de máquinas e equipamentos. Isto porque não nos parece possível crescer acima do nosso potencial, em torno de 4,5%, sem que hajam pressões inflacionárias.
Daí, o dilema na decisão do Copom desta semana e dos próximos meses. Eleva-se o juro para compatibilizar crescimento equilibrado, com consumo e investimentos avançando e inflação controlada. Mas como fechar esta equação? Isto nem as autoridades monetárias sabem ao certo como dosar.
Por fim, aumentam as possibilidades de saída do atual Presidente do BACEN, Henrique Meirelles, no dia 03/04. Só não se sabe para onde ele irá: se será vice da Dilma Roussef ou senador por Goiás. O mais sensato, politicamente, seria ele ser mais comedido na política monetária. O problema aí, no entanto, é que se ele não mexer na taxa de juros agora em março, na sua última reunião do Copom, falarão que ele está acometido da “mosca azul do poder”. Sendo assim, para contrariar estes argumentos é bem capaz do BACEN se mostrar mais conservador agora para evitar estes “ruídos ou más interpretações”. Ou seja, deve haver alguma mexida no juro. Só não se sabe ainda em quanto.
Sobre a saída de Henrique Meirelles, seu sucessor mais provável deverá ser Alexandre Tombini, Diretor de Normas e funcionário de carreira do BACEN, mais técnico do que o antecessor, mas menos ortodoxo, simpático, portanto, às teses desenvolvimentistas da Fazenda.
Sua postura nas reuniões do Copom, no entanto, sempre se pautou pelo equilíbrio, olhando o combate dos riscos inflacionários e o cumprimento da meta. Resta saber se ele perseguirá o centro da meta neste ano ou apenas para 2011. Dependendo desta visão, sua gestão monetária será mais ortodoxa ou mais flexível. É o que veremos.
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