Em meio às comparações entre o estilo de Dilma Rousseff e o de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, destaca-se a postura de cada um deles diante da agenda internacional.
No primeiro mês do primeiro mandato, Lula esteve no Equador e, em seguida, foi ao Fórum Mundial de Davos, na Suíça, passou pela Alemanha e visitou a França. Os tempos eram outros.
E Lula apenas dava início, ali, à série de viagens que ajudou a eliminar as desconfianças dos líderes mundiais em relação a seu passado sindical. Dilma, por sua vez, assumiu quando o Brasil havia alcançado o estrelato.
Mais reservada por temperamento, esteve na Argentina durante algumas horas e, nesta manhã, chega a Portugal para uma visita que teve a importância diminuída pela renúncia do primeiro-ministro José Sócrates, na semana passada.
Demissionário, Sócrates deixa de ter poderes para assinar acordos. Mesmo sabendo disso, Dilma manteve a viagem e a agenda – sobretudo num ponto que tem mais importância por seus efeitos internos do que externos. No próximo dia 30, Lula receberá o título de professor Honoris Causa da Universidade de Coimbra. E Dilma estará presente. Na primeira fila.
Antes de sair dizendo que a circunstância tira o brilho da viagem, convém parar e pensar.
Sem falar da importância de uma boa relação com Portugal e dos benefícios que isso, por si só, gera para a economia (a crise atual estimula ainda mais os investimentos privados portugueses no Brasil), convém pensar no impacto da viagem sobre a política interna.
A ausência de Lula no almoço oferecido por Dilma ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no último 18 de março, em Brasília, estimulou o falatório de que o clima entre os dois anda ruim.
Aproveitar a oportunidade para cortar o assunto pela raiz é um investimento político que compensa a manutenção da agenda. A comparação entre os dois existe e o saldo até aqui é favorável a Dilma. Mas ela sabe que Lula ainda é seu grande fiador – e que precisará dele a seu lado caso os ventos da popularidade mudem de rumo.
Dilma continua precisando de Lula, mas Lula também precisa de Dilma. Quem apostar no fim do pacto que os une quebrará a cara. Com certeza.
Fonte: Brasil Econômico, 29/03/2011
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