Os brasileiros estão fazendo um grande esforço para enfrentar os reflexos da crise mundial na economia do país. Empresários de distintos setores buscam prever o tamanho do mercado diante das novas condições de financiamento e evitar, ao máximo, o desemprego. Infelizmente, em alguns casos, as demissões já são irreversíveis perante a diminuição da demanda e a estagnação de cadeias produtivas.
O governo, por outro, cuidou da saúde financeira antes da crise chegar. E tem buscado, diante do novo cenário, estimular o consumo e incentivar a economia. Entretanto, existe claramente um descompasso entre os esforços da iniciativa privada para reduzir os impactos da crise e o aumento dos gastos públicos. Enquanto as empresas se desdobram para evitar a tomada de decisões mais drásticas, o Congresso Nacional e o Poder Executivo praticamente seguem gastando como se nada estivesse acontecendo, como se existissem dois Brasis totalmente distintos.
A proposta do Senado de aumentar em mais de 7 mil vagas o número de vereadores no Brasil é emblemática. Essa proposta indica que não há preocupação em cortar gastos públicos. Além disso, revela um desalinhamento comportamental incompreensível em relação ao atual momento, trazendo à tona um quadro conflitante de futura diminuição gradativa de receitas e de elevação das despesas.
Precisamos ser consistentes para enfrentar esse cenário de incertezas e os governos precisam assumir claramente o compromisso de gerir seus recursos com austeridade. O aumento no número de vereadores não vai impactar na elevação da qualidade do serviço prestado por eles.
Sabemos também que os custos indiretos de qualquer representante legislativo são bem maiores do que as despesas diretas. Além disso, a capacidade de encontrar soluções inteligentes não depende da quantidade de vereadores, mas da sua qualificação.
Embora o Brasil se encontre em uma situação financeira confortável, não estamos livres dos efeitos da crise mundial. Os preços das commodities – produtos fundamentais para a geração de divisas e um dos dinamizadores da economia nacional – já sofreram quedas significativas no mercado internacional e não devem voltar a crescer enquanto não for alçando um novo equilíbrio entre oferta e demanda. E isso já começa a ser sentido na arrecadação pública.
Ao longo de 2008, estima-se que a arrecadação tributária tenha crescido 14% em termos reais na comparação com 2007, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Esse aumento deveria ser utilizado para a realização de novos investimentos, fortes geradores de empregos, e não para o aumento de despesas.
O aumento da eficiência e da competitividade do agronegócio e da indústria passa obrigatoriamente pela melhoria da infra-estrutura do país. Precisamos de estradas, ferrovias, portos e aeroportos com melhor qualidade para exportar mais. No mercado interno, a melhoria da logística poderá reduzir os custos para os consumidores, pois essa atividade possui um peso importante na formação dos preços dos produtos.
Aumentar custos, neste momento, não é uma boa política. Diante do cenário de redução de atividade econômica em que milhares de pessoas lutam para manter seus empregos, o aumento dos salários do funcionalismo público em 2009 parece ser, em muitos casos, inadequado.
Aumentos de salários, acima de tudo, deveriam ser reflexo de aumentos da produtividade. Reza a sabedoria popular que só se deve gastar depois que se tiver o dinheiro em caixa, seja na empresa, no orçamento familiar ou na gestão pública.
(Zero Hora, 28/12/2008)
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