Existe pelo menos um problema em que todos os homens estão interessados. É o problema da cosmologia, da compreensão do universo.” Prossegue Karl Popper no clássico “A lógica da descoberta científica” (1959): “As ciências empíricas são hipóteses sobre o universo, como redes cada vez mais finas que lançamos para apreender a realidade.” Richard Tanas examina, em “A epopéia do pensamento ocidental” (1991), as origens da ciência moderna e sua contribuição para nossa visão cultural: “Os primeiros revolucionários das ciências pensavam em termos claramente impregnados de religiosidade. Suas descobertas científicas eram o triunfante despertar espiritual para a arquitetura divina do universo, verdadeiras revelações da ordem cósmica. Isaac Newton exclamou jubilosamente: ‘Oh, Deus, penso teus pensamentos.’ Para Copérnico, que celebrava a astronomia como ‘ciência mais divina que humana’, a teoria heliocêntrica revelava a grandiosidade e a precisão da ordem cósmica. Finalmente a mente humana compreendera o funcionamento da mente de Deus. A complexa e fabulosa ordem de um universo que funcionava como um relógio obrigava os cientistas à reverência diante da inteligência transcendental atribuída a seu criador.” A separação gradual da ciência e da religião, a bifurcação entre a razão e a fé na visão cultural do Ocidente, é atribuída à “crescente disparidade das visões de mundo, à dissonância cognitiva produzida por percepções inerentemente divergentes”, resultando “na mudança da religiosidade aberta dos cientistas revolucionários dos séculos XVI e XVII para o enfático secularismo do intelecto ocidental no século XX”. Se as ciências exatas surgiram sob inspiração divina, as ciências sociais e biológicas nasceram lúgubres. Newton, Kepler e Copérnico descobriram a precisão de um relógio regulando a mecânica celeste, enquanto Smith, Malthus e Darwin chocaram o mundo com a descoberta de complexos padrões de ordem por obra de um “Relojoeiro cego: por que a evidência da evolução revela um universo sem projeto”, como exposto por Richard Dawkins (1986). Bertrand Russell, em “Sabedoria ocidental” (1959), registra a inspiração malthusiana do princípio da seleção natural. Dizia Darwin, em “Origem das espécies” (1859), que a trágica corrida entre a progressão geométrica dos seres vivos e a progressão aritmética da alimentação exposta no “Ensaio sobre a população” (1797) é “aplicada com força redobrada aos reinos animal e vegetal em conjunto”. As ciências exatas nasceram divinas, mas desceram à Terra por respeito às evidências e aos fatos empíricos. As ciências sociais, no entanto, que nasceram mundanas, são hoje exploradas como bilhetes de entrada para os céus por ideólogos, políticos e mesmo economistas despreparados.
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