O empreendedorismo não é novo, não é um modismo. Nova é a percepção da sua importância. Nada aconteceu de repente. O empreendedorismo não é fruto da imaginação de um guru da administração, uma receita de economistas neoliberais ou uma proposta da ideologia marxista, apesar de países que adotam uma ou outra linha estarem vivamente interessados em criar uma cultura empreendedora. Houve tempos em que achávamos que o sol girava em torno da terra. Da mesma forma, os economistas clássicos achavam que o empreendedor era um acessório que orbitava em torno dos elementos centrais da economia. Nas últimas décadas descobrimos que a economia gira em torno do empreendedor.
A teoria econômica clássica propõe que se obtenha o máximo dos recursos existentes fazendo melhor o que já está sendo feito, alcançado-se assim o equilíbrio através da otimização.
No lugar de fazer melhor o que está sendo feito, o empreendedorismo propõe que se faça algo diferente, enfatizando a inovação. Por isso os economistas clássicos condenaram o empreendedor “ao reino nebuloso das “forças externas”, juntamente com o clima, governo, política, pestilência, guerra e tecnologia.” Divergindo dos clássicos, duzentos anos atrás, Jean Baptiste Say, por achar que a teoria econômica deve ver a mudança como um fato normal e saudável, criou o termo entrepreneur para descrever alguém que perturba e desorganiza.
O economista austríaco, Joseph Schumpeter, apoiando-se em a Say, rompeu com a economia tradicional postulando que a norma e a realidade de uma economia sadia, o cerne de uma teoria econômica é “o desequilíbrio dinâmico provocado pelo empreendedor inovador, e não o equilíbrio e a otimização”. Schumpeter criou a expressão “destruição criativa” para descrever a tarefa do empreendedor, em que o novo (produto, serviço) destrói o velho.
Reconhecido e batizado há cerca de duzentos anos e retirado da sua hibernação por Schumpeter, somente na década de 70 do século passado o empreendedor passou a ser considerado um ator econômico destacado das “forças externas” e começou a merecer a atenção dos acadêmicos. Ao fazer emergir o termo empreendedor, Schumpeter fortaleceu o seu vínculo com a inovação. A partir de então foi desvelado um segredo que tem a idade da civilização: a capacidade do ser humano ser protagonista do próprio destino, de agir intencionalmente para modificar a sua relação com o outro e com a natureza, e de se recriar constantemente.
Na década de 70 os economistas clássicos ficaram pasmos ao perceber que a capacidade de gerar empregos transferia-se dos governos e grandes empresas para as micro e pequenas empresas. Os governos perderam a capacidade de gerar empregos porque não conseguem mais fazer duas coisas ao mesmo tempo: ofertar empregos e equilibrar as suas contas. As grandes empresas porque, tendo suas margens de lucro comprimidas pela concorrência acirrada, são pressionadas a reduzir custos e escalar, ou seja, com margens de lucro pequenas ganham na grande quantidade.
Por outro lado, após a primeira metade do século passado, as grandes inovações realizadas nos laboratórios das micro e pequenas empresas, eram fortes sinais de que a economia, até então apoiada nas ações dos governos e nas grandes empresas, estava se transformando.
Relutantes, os economistas foram obrigados a mudar a suas lentes para conseguir entender as profundas mudanças que se processavam. Os antigos modelos explicativos não funcionavam mais. As transformações observadas tinham impacto não somente na organização da produção e na ênfase na inovação, mas alteravam definitivamente a forma do ser humano se inserir no trabalho.
Nos países democráticos, de liberdades econômicas mais amplas, a capacidade empreendedora dos indivíduos começou a ocupar pequenos espaços no mercado, chamados nichos, onde os produtos de massa não conseguem penetrar ou satisfazer completamente as necessidades dos clientes.
Os grandes conglomerados perceberam que para potencializar as suas vantagens competitivas deviam concentrar-se no “coração do seu negócio” e que teriam vantagens se transferissem a outros, mais eficazes, as atividades não essenciais. Surgiram as terceirizações. O alicerce de uma economia dinâmica passou a ser a mistura entre grandes empresas capazes de atingir elevadas escalas de produção a baixos custos e baixos preços de venda e as micro e pequenas empresas, ágeis, inovadoras, capazes de realizar a destruição criativa, que descreve na economia o ciclo de nascimento e morte, do velho produto sendo substituído pelo novo, a transformação constante e inexorável.
Desde então as relações do homem no trabalho não seriam mais as mesmas. A partir dessa época estudiosos que advertiam sobre a importância do empreendedor na economia como agente de inovação, como o austríaco Joseph Schumpeter, passaram de coadjuvantes a atores centrais. Os países avançados logo se prepararam para responder às mudanças. O mundo do trabalho não precisava somente de operadores de sistemas, pessoas capazes de produzir em escala industrial, mas principalmente de , indivíduos capazes de inovar.
Nas últimas quatro décadas os avanços foram muitos. Em alguns países a academia se debruçou sobre o tema e os seus governantes passaram a dar prioridade à atividade empreendedora nascente. Em 1975, nos Estados Unidos somente cinqüenta escolas ofereciam o ensino de empreendedorismo. Hoje o tema é abordado em praticamente todas as instituições de ensino americanas. O Brasil, nessa área, também marca passo.
Não conseguimos nos desvencilhar da discussão inútil sobre quem deve empreender: o Estado ou a sociedade civil. Nos países desenvolvidos, onde tal querela foi abandonada há décadas, o Estado se preocupa em apoiar o potencial empreendedor da sociedade civil, o único setor que sabe e tem recursos para empreender.
Só pode ser considerado empreendedor aquele que gera valor positivo para a coletividade. Empreender não pode ser considerado unicamente um processo de enriquecimento pessoal. Há tipos de empreendimento que, mesmo sendo legais, subtraem valor da sociedade e por isso devem ser combatidos. Por isso a importância do Instituto Millennium: o único elemento de que dispomos para avaliar a competência empreendedora é a ética, vista como a capacidade de se melhorar a qualidade de vida de todos. As autocracias historicamente demonstram capacidade de fazer com que o PIB cresça; basta lembrar o Brasil de Médici, o Chile de Pinochet, a China atual e outros. Mas dificilmente elas conseguem gerar boa qualidade de vida para todos, dada a sua vocação para a concentração de renda, conhecimento e poder. Não é por acaso que todos os países que hoje alcançaram elevados níveis de qualidade de vida são democráticos.
Claramente o conteúdo é real,é rico,gostei muito e gostaria participar nas vossas publicações de livros e outras publicações desde que sejam importante para mim e para a sociedade