O Instituto Liberal, no Brasil, foi fundado no Rio de Janeiro pelo grande empresário e intelectual Donald Stewart Jr., infelizmente desaparecido no final do ano passado. Preocupado com os grandes problemas nacionais, começou a procurar entender o funcionamento da economia. Assistindo a uma palestra de Friedrich Hayek no Rio, trazido ao Brasil por Henry Maksoud, tomou conhecimento da Escola Austríaca de Economia, que era muito pouco divulgada em nosso País, e que foi fundada por Carl Menger em 1870, com seus ‘Princípios da Economia Política’. Teve como seguidores Wieser, Böhm-Bawerk, Ludwig von Mises e F. A. Hayek, outro Prêmio Nobel de Economia. Foi a Escola austríaca que desmistificou brilhante e irrefutavelmente a teoria da ‘mais valia’, de Marx. Nesta última década e meia, o Instituto Liberal, que publica as obras dos citados economistas no Brasil, é quem mais ajudou a difundí-las.
Como se sabe, o escocês Adam Smith, ao publicar em 1786 “A riqueza das nações”, passou a ser considerado como o pai da ciência econômica, tendo a essência de sua contribuição se mantido válida até hoje. Mas seu pensamento continha um equívoco que só mais tarde viria a ser corrigido. Consistia na ideia de que o valor de mercado de um bem era determinado pelo seu custo de produção, equívoco que também foi aceito por Ricardo. Ambos pensavam que o preço de um bem era determinado pelos seus custos. E como os custos continham o valor da mão-de-obra da produção do bem, concluiu-se que o valor e o preço do bem era em grande parte equivalente ao valor do trabalho contido no seu custo. Este equívoco teria consequências desastrosas para a humanidade, pois Marx acreditou nele e adotou-o como base de sua doutrina. Assim, os marxistas, certos de que o preço é função do custo dos insumos, afirmam que o lucro não se justifica, sendo uma expropriação da classe trabalhadora. É a teoria da “mais valia”, que seria refutada pela descoberta do fundador da Escola Austríaca: os preços do mercado não são função dos custos, mas da importância que os consumidores dão aos produtos finais oferecidos no mercado. Um copo d’água no deserto vale muito mais do que numa cidade, embora na cidade a mão-de-obra seja mais cara que no campo. Como consequência, por sua vez, o preço dos insumos é que passa a ser função do valor atribuído pelo consumidor ao produto final, e o produtor que quiser concorrer e ter lucro deve levar isso em conta, tendo o cuidado de escolher insumos de preço módico, a ponto de poder concorrer no mercado e agradar o soberano consumidor, em qualidade e preço.
Essa descoberta austríaca foi denominada de “lei da utilidade marginal decrescente”. Infelizmente a I Grande Guerra tumultuou a vida na Europa e a Escola Austríaca não teve a divulgação que merecia. Mas em 1922 Ludwig von Mises publicou seu livro “Socialismo”, onde sustentou que o socialismo, com seu planejamento central, era impossível de funcionar, a não ser no totalitarismo (assim mesmo sem eficácia econômica), por causa da ausência de um sistema de preços livres. Sua profecia foi confirmada, não sem 70 anos de genocídio, opressão e pobreza no Leste europeu e na China, como até hoje em Cuba e na Coreia do Norte. Somente durante o final da II Guerra é que Hayek publicou em Londres o seu livro “O Caminho da Servidão” (que é o socialismo), e que viria suscitar a criação dos ‘think tanks’ (institutos) liberais que inspiraram o governo de Margaret Thatcher e de Ronald Reagan, ressuscitando a economia inglesa e ajudando a fantástica revitalização atual da economia dos Estados Unidos.
Tendo estudado Direito em Bonn e Berlin, Marx escreveu tese sobre os filósofos gregos Epicuro e Demócrito, descobrindo aí a crítica materialista da religião. Tornando-se redator jornalístico da Gazeta Renana, interessou-se pelos problemas econômicos e passou a ler os trabalhos dos socialistas franceses Proudhon, Saint-Simon, Fourier e do ensaísta Montaigne, este sendo um precursor do socialismo que já no século XVI defendia a falácia de que a riqueza dos ricos é conquistada sobre a pobreza dos pobres. Mudando-se para Paris, volta-se Marx para o pensamento de Hegel, que já conhecia, escrevendo sobre temas como a alienação em filosofia. Mas depois atacou os hegelianos e também Proudhon. Muda-se para Bruxelas e com Engels escreve o Manifesto do Partido Comunista. Vai depois para Londres, onde morre em 1883 depois de escrever O Capital.
As ideias racionalistas de Voltaire e Rousseau, em pleno iluminismo, igualmente influenciam Marx. A sociedade é um mecanismo e portanto pode ser modificada pelo homem, através do que Hayek chamou de engenharia social. Ele também aprecia o terror e a violência destruidora da Revolução Francesa contra a nobreza, instrumento jacobinista que lhe parece útil para eliminar a burguesia capitalista. Como nega o problema econômico da escassez, que o capitalismo para ele havia resolvido, pode agora eliminar a propriedade privada dos meios de produção. As consequências dessas ideias já pertencem à história, que virou a página em 1989. Entretanto, no Brasil ainda há muita gente não convencida disso, sendo numerosos os que optam por uma terceira via. Mas, como disse Václav Klaus, ex-presidente tcheco, a terceira via é caminho para o terceiro mundo. É só observar o que ora se passa nos países do Leste europeu, na sua tentativa de passar do socialismo ao capitalismo, ou economia de mercado. Os que mais se prenderem à idéia do Estado-previdência e intervencionista na economia, mais ficarão na pobreza.
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