Depressões (recessões e deflações fortes e prolongadas) são fenômenos raros na economia mundial desde o abandono do padrão ouro em meados dos anos 30 do século passado.
Como consequência, pouco se conhece, teórica e empiricamente, sobre a efetividade das políticas adotadas para combatê-las e sobre seus efeitos colaterais negativos.
A promessa de “taxas de juros zero por longos períodos de tempo”, que tem sido parte fundamental do arsenal utilizado para evitar a depressão, se, por um lado, incentiva o consumo e a compra de ativos de risco (ações) e ativos reais (imóveis), por outro, sugere que as autoridades monetárias esperam uma economia anêmica por um “longo período”, o que deprime as expectativas, aumenta a incerteza e tem um efeito depressivo sobre os investimentos, o emprego e a atividade econômica, contrabalançando o efeito expansionista dos juros baixos.
Déficit público elevado aumenta a demanda agregada, mas pode gerar expectativa de elevação de impostos para pagar a crescente dívida pública.
Se as famílias e/ou as empresas decidirem aumentar suas poupanças em razão da expectativa de mais impostos no futuro, o efeito positivo do aumento dos gastos pode ser menor do que o esperado ou até mesmo nulo.
Em outras palavras, existe uma grande incerteza quanto à capacidade das políticas monetária e fiscal de evitar que a economia entre em deflação.
O resultado é maior dificuldade para prever o futuro, o que afeta negativamente as decisões das empresas em relação ao investimento e ao emprego e torna o comportamento da economia instável e de difícil previsão. Isso ocorreu no Japão nos anos 90 e está ocorrendo na atual recessão.
Diante deste cenário, os bancos centrais têm adotado uma estratégia mais cautelosa e estendido o horizonte de decisão da política monetária como forma de evitar erros graves de avaliação das condições econômicas.
Nos países desenvolvidos, apesar do grande aumento de liquidez, as decisões sobre taxas de juros têm se pautado pela minimização da probabilidade de recessão, ainda que isso possa estar aumentando a probabilidade de inflação no futuro. Daí a expectativa generalizada de que as taxas de juros permanecerão próximas de zero pelo menos até o final de 2011.
Nas economias emergentes, após as fortes quedas ao longo da crise, os sintomas de pressão inflacionária decorrente da forte retomada do crescimento e o risco de perder o controle sobre as expectativas de inflação fizeram com que os bancos centrais iniciassem o processo de aumento dos juros no final de 2009 e início de 2010 para níveis mais compatíveis com a experiência histórica dessas economias.
Entretanto, também nesses países a cautela é evidente. Em lugar de um aumento persistente nas taxas de juros até o nível considerado de equilíbrio, que caracterizou as políticas monetárias antes da crise, as autoridades monetárias têm adotado uma estratégia de “stop and go”.
Como é difícil prever qual é a taxa de juros de equilíbrio de longo prazo e qual será a reação da economia depois da crise, após algum aperto monetário, dá-se uma parada no processo para observar seus efeitos sobre o nível de atividade e a taxa de inflação. Caso os sintomas de inflação persistam e a atividade continue numa trajetória não sustentável, retoma-se o aperto monetário. Austrália e Israel são dois exemplos dessa estratégia.
Essa é uma estratégia arriscada, do ponto de vista do combate à inflação. Mas, diante da falta de visibilidade quanto ao futuro, estender o horizonte de análise, usar o farol baixo e diminuir a velocidade parecem ser a estratégia escolhida pelos bancos centrais. Só o futuro dirá se o resultado será mais inflação.
Porém, dado o elevado grau de ignorância sobre as causas e, principalmente, sobre as curas e os efeitos colaterais negativos dos remédios utilizados para evitar as depressões, essa parece ser a estratégia mais adequada para reduzir a probabilidade de que ela venha a ocorrer.
Fonte: Jornal “O Estado de S. Paulo” – 11/08/10
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