O pavor dos americanos é mergulhar de novo na Grande Depressão.
E, para evitar a todo custo uma reedição desse trauma, seu banco central, o Federal Reserve, pratica a Grande Pedalada: juros excepcionalmente baixos por tempo extraordinariamente longo. Zeraram sua poupança, constroem pontes de papel em busca de enriquecimento, encharcaram em centenas de bilhões de dólares as reservas de crédulos bancos centrais emergentes, soprando bolhas acionárias e imobiliárias em sequência desde 2001.
O temor histórico dos alemães é experimentar mais uma vez a hiperinflação.
A austeridade monetária era o DNA de seu banco central, o Bundesbank. Um grande teste foi a reunificação da Alemanha após a queda do Muro de Berlim. O episódio exigiu enorme esforço fiscal, agravado por uma taxa de conversão monetária que tornava irrealistas os preços e salários até então praticados na Alemanha Oriental. Se o Bundesbank não aliviou o sofrimento dos alemães, por que seu descendente direto, o Banco Central Europeu, com o mesmo DNA, facilitaria agora a vida dos gregos? A excessiva expansão do crédito global no período 2003-2007 sincronizou o ritmo de crescimento das economias nacionais. Atingidos pelo estouro das bolhas em 2008, os países buscam diferentes rotas de escape ao buraco negro em 2009-2010.
Os americanos lideram os anglo-saxões insistindo na Grande Pedalada. A ideia é inflar novamente os preços dos ativos. E ganhar tempo enquanto se corrige o endividamento excessivo, em busca da solvência perdida. O importante é que subam os preços dos imóveis ante o valor da dívida contraída pelas famílias, que hipotecaram suas casas. E que subam os preços das ações ante o valor das dívidas assumidas em aquisições, recuperando os empréstimos de um sistema financeiro que também quebrou pelo endividamento excessivo.
Já os europeus terão de enfrentar a crise com a austeridade monetária exigida pelos alemães e a disciplina fiscal imposta pela moeda única. O euro é a moeda continental, pouco sensível às necessidades de gregos e portugueses, cujos problemas tornam-se irreversivelmente fiscais. A garantia de cooperação vem da exposição dos bancos europeus à dívida grega. Parece inescapável a reestruturação de dívidas soberanas na Europa.
Inflar ou reestruturar? Estas duas rotas de fuga fundamentalmente distintas refletem traumáticas experiências históricas.
Fonte: Jornal “O Globo” – 10/05/2010
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