O consumidor que tem mais informações pode escolher melhor o produto que deseja. O eleitor que tem mais informações pode escolher melhor seu candidato. Graças ao acesso à informação, as pessoas podem escolher seus chocolates, seus representantes políticos, e até suas religiões. Enfim, não é preciso repetir todos os clichês a respeito de como a informação é importante e o conhecimento é necessário.
Mas, diante do relativo silêncio do mundo ocidental em relação à submissão do Google ao governo chinês, que censurou o resultado de buscas por palavras como “Taiwan independence”, “democracy”, “Falun Gong” ou “Vatican” – compare estes resultados do Google chinês (observe o trecho meta=cr%3DcountryCN ao fim dos endereços) com os do americano ou brasileiro – , não custa recordar que a liberdade que tanto prezamos no Ocidente não é apenas a liberdade de comer comidas gordurosas, mas também a liberdade de acesso à informação, que permite que tomemos nossas decisões da melhor maneira possível.
Sei que alguém pode argumentar que o Google é uma empresa privada e tem o direito de fazer o acordo que quiser com quem quiser. Concordo. O que está em jogo não é isso, mas o compromisso que o Google teria, nominalmente, de “tornar toda a informação do mundo acessível para todas as pessoas”, compromisso que só pôde nascer no Ocidente, onde se preza a liberdade de consciência acima dos interesses grupais. Ao negligenciar um sexto de “todas as pessoas”, a empresa acaba caindo no velho esteréotipo criado pela propaganda de esquerda, de pessoas gananciosas que estão dispostas a sacrificar seus valores para obter benefícios materiais.
Se hoje muitas pessoas de esquerda falam em “responsabilidade social” das empresas, eu gostaria de ver essa expressão entendida como a necessidade de as empresas reconhecerem que o modo de vida que tanto prezamos não foi criado por um decreto do Partido Comunista nem pelas prensas da Casa da Moeda. Se os grandes grupos ocidentais fizessem força para levar a China os valores que permitiram sua própria existência no Ocidente, trariam mais liberdade aos chineses do que todos os mísseis americanos.
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