Em recente artigo, Alexandre Schwartsman faz uma crítica à indefinição das metas pelo Banco Central, última – inacreditável – obra dos atuais formuladores da política monetária. Embora concorde com ele em linhas gerais, temo que muitos interpretem o artigo de forma incorreta. Afinal, se o Banco Central não é capaz de nos dar uma meta – claramente definida – então isto mostraria que os gestores de política econômica são irracionais ou negligentes.
Neste caso, não acho que esta seja a melhor explicação. Durante os últimos anos, os consumidores ganharam com a virtuosa combinação da estabilização econômica (herdada dos 8 anos de governo FHC) e o bom desempenho da economia mundial (que, graças à globalização, tem gerado efeitos positivos em nossa economia). Agora, dizem alguns, é hora de acabar com esta “farra dos consumidores”. Empresários, principais fontes de fundos para campanhas eleitorais, estão inquietos com o câmbio. Câmbio real, diga-se de passagem, como sempre assinalam os representantes da indústria nacional. Há um desconforto com a economia globalizada e com o mercado cambial: moeda forte valoriza o câmbio e isto, sabe-se bem, atrapalha, em algum grau, a vida do exportador.
Vejamos o quadro completo: o governo gaba-se de arrecadar muito, zomba da combalida e indisciplinada infra-estrutura aérea (outro dia foi-nos dito por uma mesma autoridade governamental que filas nos aeroportos e recordes de arrecadação eram resultado do mesmíssimo crescimento econômico), além de caprichar nos gastos públicos com o recente aumento para várias categorias de empregados públicos. Em resumo, temos uma meta indefinida, um aumento de gastos financiado por um aumento de impostos e, claro, um PAC que não decola porque os controladores estão de greve, os radares não funcionam ou, sei lá, há muito nevoeiro. Há também uma suposta crise institucional, mas nossos caras-pintadas, hoje, estão com bons empregos (ou são assessores de políticos) e não querem se incomodar com isto. Afinal, quem é o maior empregador hoje? A dica é: o governo controla quase 40% da economia (medida pela carga tributária em percentual do PIB).
Para mim, este quadro caracteriza um claro ciclo político-econômico, só que visto sob a ótica de um período de oito anos (ótica compatível com a impossibilidade de nova reeleição): ao zelo do início de mandato com a inflação, segue-se, agora, uma política frouxa em relação às metas – já que, metas indefinidas, imprecisas, não podem ser chamadas de metas. Além disso, a preocupação com os gastos públicos diminuiu pois, dentre outras, o governo percebeu que a sociedade não reage, na mesma velocidade, contra aumentos na carga tributária. Além disso, é fácil adoçar a boca de alguns atores sociais de peso – como os empresários – com propostas de políticas industriais para este ou aquele setor.
Conclusão: é hora de se esquecer as metas, “liberar” o banqueiro central para baixar os juros o que gera pressões para uma desvalorização da taxa de câmbio nominal, estimulando a atividade econômica o que, por sua vez, trará consigo as indesejáveis (para alguns) pressões inflacionárias. Ao final, o resultado é que uma parcela da sociedade será favorecida às custas da outra (que já surfou muito com a inflação sob controle gerada pelo sistema de metas). Em qualquer caso, sempre há uma “bolsa-família”, uma “quota” ou alguma outra política de isenção tributária para um setor ou outro que, vista isoladamente, parecerá muito boa para o respectivo público-alvo.
Finalmente, eu concordo com Alexandre Schwartsman: houve uma mudança significativa na política econômica. Mas poucos parecem ter percebido o que isto realmente significa… ainda.
Bom dia, preciso de ajuda, quais sao as metas politicas econômicas para 2010? Aonde encontro essa informação?
Obrigada.