Melhores oportunidades de emprego. Maior produtividade e maiores salários. Absorção de novas tecnologias. Melhor distribuição de renda. Desempenho econômico superior e melhor qualidade de vida. Tudo o que desejamos para o Brasil depende diretamente dos investimentos em educação. E como andam os investimentos na indústria educacional? Abaixo da superfície de aparente tranqüilidade, há um ambiente de turbulência, de enorme agitação — com muitas oportunidades, mas também alto risco.
Uma sucessão de choques sistêmicos já empurrava o setor para uma reconfiguração. A demografia, a regulamentação e as prioridades do setor público, o reposicionamento das grandes redes privadas de ensino, a maior penetração dos grupos estrangeiros e as novas tecnologias eram as forças já conhecidas atuando no universo educacional.
Pois, agora, entra em cena um novo e formidável choque, caso particular do fenômeno mais abrangente das altas dos mercados acionários globais: a invasão dos financistas, o chamado das bolsas, o choque de capitalismo. Há banqueiros e fundos especializados acampados em cada universidade privada, com empréstimos-ponte e capitais de risco para financiar aquisições em busca da consolidação e posterior lançamento de ações em bolsa. As promessas são a expansão dos investimentos e a educação de qualidade a preços acessíveis para todos os brasileiros. As exigências são a melhoria da gestão, a maior transparência e a melhor governança nos empreendimentos educacionais.
Uma série de lançamentos de ações de companhias educacionais está programada para os próximos meses. Uma antiga entidade filantrópica recém-convertida em organização com fins lucrativos destinada ao público de baixa renda. Uma rede de ensino médio com aspirações de transbordar para o ensino superior, após tentativa malsucedida em associação com grupo estrangeiro. E muito, muito mais, a julgar pela atividade febril nas linhas de montagem.
Essa verdadeira corrida às bolsas foi deflagrada por um lançamento extremamente bem-sucedido: uma plataforma educacional modesta, acompanhada de um ambicioso plano de negócios e da garantia de uma gestão transparente e profissional. Foi uma bofetada na face dos empreendedores do setor, às voltas com as tradicionais guerras de preço, os decorrentes problemas financeiros, o excesso de imobilização, as brigas familiares e a gestão pouco ortodoxa, sob o escudo da “filantropia”. Proprietários de escolas de considerável porte e marca conhecida descobriram que o mercado dá mais valor a um futuro transparente do que a um passado obscuro.
As exigências embutidas nas avaliações dos mercados acionários provocaram, por sua vez, choques de gestão em praticamente todas as instituições privadas de ensino. A busca de credenciais que as tornem elegíveis para as novas ondas de investimento não se resume aos aspectos administrativos e financeiros, mas deverá também tornar mais práticos e aplicados os conteúdos das redes educacionais. Pois esses novos investimentos em educação é que trarão mais empregos, maior produtividade, maiores salários e melhor qualidade de vida.
O Globo, 18 de junho de 2007
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