Você segurou a porta do elevador para um senhor que vinha correndo. Ele agradeceu e apertou o botão do último andar. Você o reconhece. É o Bill Gates. Durante trinta segundos você estará sozinho com o homem mais rico do mundo. Você está diante de um tipo de oportunidade chamada “papo de elevador”. Saberia aproveitá-la?
Aproveitar oportunidades inova e cria riqueza. Mas como aproveitá-las? Um poeta escreveu que, para ter-se êxito “três coisas definíveis são precisas: saber trabalhar… não fazer um esforço inútil, persistir no esforço até o fim e saber reconstruir uma orientação quando se verificou que ela era ou se tornou errada; criar relações… para a vida material e para a vida mental. Na vida material, a expressão tem o seu sentido direto. Na vida mental significa criar cultura. A história não registra um grande triunfador material isolado, nem um grande triunfador mental inculto; aproveitar oportunidades… quer dizer não só não as perder, mas também achá-las”. (A Economia em Pessoa. Verbetes Contemporâneos e Ensaios Empresariais do Poeta – Organização, Introdução e Notas de Gustavo Franco – pg 145 – Jorge Zahar Editor).
O gênio de Fernando Pessoa definiu o que é um empreendedor. É um aproveitador de oportunidades – alguém que descobre as oportunidades; tem foco; é persistente; trabalha em equipe; usa julgamento subjetivo; aceita competição; descarta erros; sabe fazer contas. E desenvolve relacionamentos e estoca conhecimento.
O empreendedor só existe porque queremos nos livrar das incertezas causadas pela nossa ignorância. Se a função utilidade das pessoas fosse conhecida, “não haveria escolha, pois haveria decisão ótima”. Mas na presença da incerteza, “a escolha é algo real e a decisão se torna um fenômeno mental subjetivo” (James Buchanan). Entra Frank Knight: “O empreendedor cria certeza para muitos, pagando adiantado fatores de produção. O lucro está relacionado com a capacidade de ficar do lado certo”. Israel Kirzner descreve o empreendedor como alguém em constante estado de alerta, com conhecimento incompleto e abstrato. E Schumpeter enfatiza o papel inovador, de heróico conquistador tirando prazer da arte de criar.
Para o estado-empreendedor foi impossível lidar com o descobrimento de oportunidades, a escolha subjetiva e o abandono do erro. Restou o empreendedor privado, mas ele não são favas contadas. De acordo com Edmund Phelps, os valores individuais como responsabilidade, iniciativa, aceitação da competição e de desafios tem se demonstrado tão importantes quanto o ambiente institucional. Para Robert Lucas e Douglass North, as descobertas e conseqüentes decisões dos empreendedores levam em consideração uma dada estrutura de incentivos. Mas tais incentivos não são proteções e isenções fiscais pontuais. E a idéia de Keynes que empresários desanimados eram conseqüência de demanda deprimida não faz sentido para aproveitadores de oportunidades, cujos espíritos não são animais e sim abstratos. Gasto público atiça o espírito animal de outro tipo de empresário – aquele que corrompe e cria pobreza. E nossos governos continuam compulsoriamente transferindo riscos entre pessoas e gerações, escolhendo quem vai ganhar (e perder), mantendo ou aumentando impostos e regulamentações obtusas. Com tais atitudes e crenças anticompetição e antiinovação, esqueçam dinamismo econômico. Um centro de inovação e empreendedorismo do tipo Silicon Valley seria impossível no Brasil. A CLT e a LDB não deixam.
É crucial um mais amigável ambiente para os aproveitadores de oportunidades. E se você perdeu a oportunidade do elevador, vale a pena seguir recomendação atribuída ao legendário Braguinha, de ser fundamental aprender “nadar e falar inglês”. Warren Buffett pode cair de uma lancha perto de você, oferecendo-lhe a oportunidade de salvar o segundo homem mais rico do mundo. Confiando no governo ou na sorte, só resta-lhe “herdar do tio brasileiro ou não estar onde caiu a granada” (Fernando Pessoa).
(Publicado em O Globo em 31 de Maio de 2007)
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