Após a extraordinária recuperação do preço das ações desde o fundo do poço no ano passado, as Bolsas param para tomar fôlego. Interrompem a alta e iniciam uma correção para baixo. Perguntas inevitáveis se colocam. Voltamos ao mercado de baixa? Ou foi a alta sincronizada dos mercados acionários nos diversos países uma indicação segura de que a recuperação das economias está logo à frente? A alta das Bolsas foi um sinal da reativação sustentável da produção e do emprego?
Ou, ao contrário, os fundamentos econômicos foram atingidos mais profundamente, de modo a provocar essa interrupção da alta das Bolsas e um novo desfalecimento dos preços das ações? A resposta não será igual para todos os países.
O caso brasileiro é particularmente interessante. É fato que a liquidez global e os movimentos de capitais sincronizaram os movimentos das Bolsas nacionais durante a fase de crescimento acelerado da economia mundial. Também é verdade que o colapso do crédito no buraco negro de 2008 derrubou simultaneamente as Bolsas locais. Mas as diferenças entre os países já começam a surgir durante a recuperação dos preços das ações em 2009. E o superior desempenho da Bolsa brasileira em relação à Bolsa americana, por exemplo, reflete uma assimetria de condições entre as duas economias. Os Estados Unidos estão visivelmente no fim de um histórico ciclo longo, enquanto o Brasil pode estar disparando um longo ciclo de crescimento.
Pela primeira vez em décadas, em plena crise e na maior delas, os bons fundamentos nos permitem ativar políticas monetária e fiscal contracíclicas para estimular a produção e o emprego. As taxas de juros nominais de um dígito, a redução dos impostos e a irrefreável ampliação dos gastos públicos deverão reativar a economia brasileira já na segunda metade de 2009. O Brasil será um dos primeiros países a sair do brejo da grande recessão global, que ainda está longe de terminar.
As expectativas favoráveis quanto ao ambiente de negócios serão importantes para a manutenção dos investimentos. Há uma crescente percepção externa de que a dimensão do mercado interno brasileiro permite uma dinâmica de crescimento próprio apesar da rápida e intensa contração econômica mundial. A sustentação dos investimentos estrangeiros nas empresas nacionais e das inversões externas na Bolsa brasileira indica boas perspectivas de atração de capitais para financiar nosso crescimento. Esses fluxos de poupança externa também garantem uma estabilidade cambial a cotações que estimulem as importações de máquinas e equipamentos necessários à ampliação da capacidade industrial.
A redução do custo de capital é outro fator que reforça a oportunidade das companhias de manter seus programas de investimento. Após décadas de juros estratosféricos, prossegue uma formidável realocação das aplicações financeiras em direção às ações graças à sistemática e, cumulativamente, à substancial redução das taxas de juros pelo Banco Central. A entrada de capitais externos e a realocação dos portfólios locais em direção às Bolsas formam uma rede de sustentação dos preços das ações das companhias brasileiras, permitindo o financiamento de seus investimentos a custos de capital acessíveis.
Atravessar esta crise será, antes de tudo, um exercício de nossas potencialidades. Uma verdadeira descoberta das enormes possibilidades de criação de riqueza em um mercado nacional de consumo de massa. Um experimento em busca de uma dinâmica própria de crescimento com base no mercado interno, nos ganhos de produtividade e no aumento da renda dos brasileiros. A fórmula do crescimento sustentado é a criação de uma enorme classe média emergente.
O desafio não é apenas da geração de milhões de postos de trabalho na próxima década, mas também o da manutenção dos existentes em meio à guerra mundial de empregos deflagrada pelos chineses e agudizada pela recessão global. Mas as reformas pelos empregos presentes e futuros dos trabalhadores brasileiros não são propriamente o que os senadores andam fazendo com seus parentes e amigos.
(Época – 23/06/2009)
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