Evo Morales cumpriu sua promessa de campanha: expropriou a Petrobrás. Bin Laden cumpriu sua promessa de iniciar uma guerra santa contra o ocidente, ou contra seu mais poderoso representante, os EUA. O policy maker que assumiu o compromisso de despejar subsídios em algum setor “estratégico” da economia e o cumpriu também não pode ser visto como um sujeito que mente. Os três exemplos, claramente, mostram o que o cidadão brasileiro comum vê como exemplos de “moralidade”: cumprir a palavra empenhada. Os três exemplos, adicionalmente, geram um certo desconforto no mesmo cidadão, pois ele não se sente muito bem com a expropriação da Petrobrás ou com o atentado às Twin Towers . Também pode se sentir incomodado com o aumento do total pago em tributos para que algum setor “estratégico” receba “ajuda” governamental. Eu disse “pode”, no último caso, porque é possível que o leitor seja um receptor da dita ajuda. Mas eu também poderia imaginar que o leitor é, por algum motivo, um simpatizante de Morales ou de Bin Laden. Todos nós temos uma opinião sobre quase todos os assuntos, embora nem sempre tenhamos o mesmo nível de conhecimento sobre todos. O leitor, mesmo que nada entenda sobre economia, pode não ser simpático à probabilidade de alta inflação. Mesmo que nada saiba sobre relações internacionais, pode achar exageradas as críticas a Morales. E mesmo que não saiba nada sobre o funcionamento do seu fogão, pode estar mesmo afim de parar de ler este texto e cozinhar uma boa refeição. Talvez seja uma boa idéia… Em economês, dizemos que uma pessoa é normativa quando expressa sua opinião sobre como deveria ser/funcionar algum aspecto da realidade. Quem nunca se deparou com aquele revoltado velhinho que se queixa dos altos impostos ao mesmo tempo em que pede por reajustes (para cima) de sua aposentadoria? Opiniões sobre como o mundo deve funcionar não precisam de fundamentos científicos. Podem ser simplesmente baseados nos valores morais (”morales”, em espanhol?) dos indivíduos. É moralmente condenável defender o aborto? Talvez o seja para um católico. O que não impede que o aborto, como disse Stephen Levitt em seu Freakonomics, diminuir a criminalidade. Bom, mas aí demos um salto. Agora falamos dos efeitos do aborto, independente do que eu ou você pensemos do mesmo. Falamos de economia positiva, ou seja, como é que o mundo funciona, independentemente dos meus desejos. Se você aumentar a alíquota de um imposto, é possível que a arrecadação aumente, dado que existe uma explicação lógica (= científica) para isto, mesmo que você não goste de aumentos de impostos. Ok, antes que isto se transforme em aula de economia, vamos pensar um pouco sobre o noticiário. Muitas vezes lemos gente criticando o presidente da República porque o mesmo seria “de origem humilde”. Seus defensores, corretamente, chamaram a atenção para o aspecto preconceituoso deste argumento “elitista”. Por outro lado, estes mesmos defensores atacaram o antecessor do atual presidente da Câmara usando exatamente os mesmos argumentos. O apelido era revelador: “baixo clero”. Em seguida, claro, argumentava-se que o sujeito seria péssimo administrador porque “oportunista”, “preocupado apenas em aumentar seu salário”, etc. Nenhuma palavra sobre o “mensalão”? Bem, em poucas palavras, o que se observa aqui é que o mesmo critério (‘origem humilde’) usado pelas mesmas pessoas para atacar inimigos era usado para… enaltecer amigos. É o que podemos chamar de “duplo critério da moralidade”. Quem acusa os economistas de fazerem a “fria análise positiva dos fatos” esquecendo-se das “paixões humanas” corre um forte risco de passar sua vida usando este critério de dúbia eficácia – senão muito maroto – na avaliação de aspectos da realidade. A quem interessa usar este critério? Fácil: a quem não interessa um critério cientificamente sério para análises de propostas de política. Assim, cumprir promessas de campanha que são fortemente normativas e pouco fundamentadas cientificamente (não passaram por análises positivas) não é nenhum mérito de um bom governante, senão um grave defeito (ou é fruto de uma decisão maquiavélica, no sentido popular do termo). Outra conseqüência disto é que não é porque o mundo é imperfeito que não existem critérios para se julgar as ações de um político. Dizer que “todos os políticos são imperfeitos” e que, portanto, votará aleatoriamente em algum deles é um argumento muito ruim. Afinal de contas, nenhum de nós é perfeito e nem por isto abrimos mão do direito de votar. Ou você se igualará a eles e aplicará o critério da “dupla moral”?
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