O biólogo Edward Wilson, em “Natureza humana” (1978), considera “a predisposição à crença religiosa a mais complexa e poderosa força, provavelmente irremovível, da natureza humana. Traço universal em todas as sociedades, os antropólogos estimam que a espécie humana tenha produzido em torno de cem mil religiões”. Um processo darwinista de seleção cultural opera na evolução de seitas para religiões “bem-sucedidas”. As que satisfazem os adeptos se expandem. Em sua “História do cristianismo” (1976), Paul Johnson argumenta que “a ascensão cristã não foi acidental, mas sim o atendimento a uma ampla, urgente e mal formulada necessidade de um culto monoteísta no mundo greco-romano. As divindades nacionais não forneciam mais explicações satisfatórias para a sociedade cosmopolita em expansão no Mediterrâneo, com seus crescentes padrões de vida e pretensões intelectuais”. Era a versão mediterrânea da globalização derrubando deuses locais. Prossegue Johnson: “O judaísmo, com sua tradição monoteísta, a ênfase na vida familiar estável, no valor peculiar atribuído à vida humana, na condenação ao roubo, na escrupulosa ética comercial e na atenção aos pobres e doentes, poderia ter se tornado uma religião global. Mas o deus dos judeus trovejava em seu templo, exigia sangue sem disfarçar suas origens raciais primitivas.” Como universalizar uma teologia tribal? Responde Johnson: “Paulo, o judeu que leu as escrituras em hebraico, falava aramaico e também o grego, resgatou o cristianismo da extinção, rompendo com a lei judaica e seus 613 mandamentos e proibições que nos tornavam pecadores amaldiçoados. Paulo processou então a helenização da seita cristã, a transmissão de uma cosmologia universal que tornou o monoteísmo judaico acessível ao mundo romano. Tornar-se-ia a religião do império. Penetrou em cada aspecto da vida política, econômica e social, com seus princípios morais e sua atribuição de responsabilidade à consciência individual e ao uso do livre-arbítrio. A Europa tornou-se uma criatura do cristianismo.” Na coleção de ensaios intitulada “Em busca de um mundo melhor” (1994), Karl Popper faz a pergunta: em que crê o Ocidente? “Do ponto de vista histórico, no cristianismo. Ao lado do racionalismo grego, nada influenciou tanto a história das idéias no Ocidente quanto o cristianismo. Essa é, entretanto, uma resposta incompleta. Com o avanço da ciência, particularmente nos últimos três séculos, não somos menos racionalistas do que cristãos. Não é uma visão cosmológica única, mas a diversidade de nossas visões o que deveria fazer orgulhoso o Ocidente. É o pluralismo de nossas idéias. É a tolerância, e não a substituição do dogma religioso por qualquer outro, como a negação das religiões pelo marxismo.” Prossegue Popper: “Detestamos o despotismo, a repressão e o uso da força. Somos contra a guerra, mas lutaríamos pela liberdade. A luta contra a pobreza não deve ser deixada ao acaso. Mesmo críticos do socialismo, não devemos esquecer que se origina de uma admirável convicção moral, o que nos obriga a indicar melhores formas de realizar essas idéias.” Tolerância, confraternização e solidariedade são o verdadeiro espírito do Natal, objeto de comemoração da fé cristã. Mas são também aspirações de humanistas que se usam ferramentas científicas em busca de um mundo melhor.
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