Era 1º de janeiro de 2003. Uma chuva fina, porém constante, caia sobre Brasília. Nada que espantasse a multidão que para lá rumou naquele dia. De todos os meios – ônibus, carro, avião e até bicicleta! – uma legião de esperançosos lotou a Esplanada dos Ministérios.
O medo havia, enfim, passado. Após três tentativas frustradas, Luis Inácio Lula da Silva “amadurecera” e ascendia à condição de Presidente da República. Embalado por uma forte campanha de marketing, por um realinhamento político com partidos conservadores, como o Partido Liberal e, principalmente, pelo abandono de antigos dogmas econômicos, o Partido dos Trabalhadores tomava aquilo que achava ser seu por direito: o poder de escolher os rumos do país.
Passados sete anos daquela tarde chuvosa, o governo petista mostrou seus piores lados. Eleito sobre a bandeira da ética transformou a máquina pública em extensão do partido, com o emprego de um vasto número de militantes. Crítico feroz das reformas da década de 90, de posse da caneta presidencial fez questão de enterrar qualquer tentativa de mudança institucional, construindo em seu lugar um audacioso modelo clientelista, arrogante e extremamente nefasto para as futuras gerações.
É espantoso como o governo vermelho de Lula funciona. Distribui livretos com o selo do Planalto para os formadores de opinião espalharem a mensagem de triunfo. Aumenta o gasto corrente e cospe na cara da oposição, dizendo fazer política anticíclica. Faz alianças nebulosas com figuras suspeitíssimas, como José Sarney, Fernando Collor e Renan Calheiros. Tenta a todo o custo criar conselhos de jornalistas, para “coibir os excessos da imprensa”.
Generaliza e oficializa a corrupção, seja via mesadas, cartões corporativos ou reembolsos sem limites. Segue de forma inequívoca a mantra maquiavélica: os meios não importam, apenas os fins virtuosos.
E que fins são estes, caros leitores? A Era Lula marca a volta de um passado triste na História brasileira. Tempos em que se pensava que a conta pelos projetos megalomaníacos, pelo desenvolvimentismo sem calculadora e pelo gasto sem limites nunca viria. A ilusão vai se corroborando e dando lugar à realidade à medida que o “projeto Brasil potência” vai sendo ressuscitado. Ironia do destino: os algozes da ditadura estão de volta, agora sob o manto vermelho.
Afinal, não basta manter uma política monetária responsável – tão duramente criticada no passado – mas é preciso se apoiar em circunstâncias grandiosas. Quem segurará esse país que tem reservas enormes no pré-sal? Quem parará o Brasil que sai primeiro da crise?
Os opositores a esse glorioso e virtuoso governo são mesmo uns entreguistas! É o que sugere a resposta certa no ENADE. Ora, como não notar o avanço, a competência e expertise da cúpula petista? Como não admirar a gerente do PAC, a ministra Dilma? Logo ela, que blasfemou o racionamento de 2001 e ousou dizer que estávamos a salvo das trevas – como nunca antes na História desse país!
É mesmo difícil não ceder à fantasia vermelha. É preciso se acorrentar muito bem às árvores para não ficar tentado a seguir o canto das sereias petistas.
Os que aprovam Lula somam mais de 80% dos brasileiros, dizem as pesquisas de opinião. Os que votam em quem Lula indicar somam mais de 20% do eleitorado! Some os receptores do Bolsa Família, os servidores beneficiados com polpudos reajustes (excluída as interseções) e o crescimento da economia, temos um pleito decidido em 2010?
Nada ganho, caro leitor, nada ganho! É preciso lançar mão de mais uma ofensiva: “Lula, o filho do Brasil” em uma sala de cinema perto de você. Agora assim, a fantasia esta completa! Afinal, não basta ser “único na História”, não basta ser “o melhor presidente”, é preciso virar um mito. É necessário zombar daqueles que se esforçaram para estudar, alegando que o “filho do Brasil” venceu sem ter diploma. É preciso amplificar os feitos, a origem paupérrima e a vitória. Será Lula nosso Messias?
E aquele triste passado, que parecia ter nos deixado, nunca foi tão atual. Ao invés de instituições sólidas, o que precisamos mesmo é de um déspota esclarecido. Ao invés de um sistema jurídico eficiente, de uma escola pública descente e de mecanismos de crédito, mais vale um homem de boa fé! E quem melhor do que Lula – o filho do Brasil – para nos indicar o caminho?
Cerca de 57% dos brasileiros acham que ser honesto deve ser a característica mais importante do futuro presidente. O que deveria ser pré-requisito sempre foi diferencial nesse lado dos trópicos. Apenas 17% acham que o próximo presidente deve ser um bom administrador. Menos de um quinto da população acredita que o ocupante de um cargo executivo deve ser um bom gestor público!
Afinal, para que entender de gestão pública quando a bravata e a retórica é que rendem votos? Para que pensar em instituições quando o personalismo é que dá o tom do debate? Para que estudar quando ser carismático é o que decide uma eleição?
Já não existem mais dúvidas, caro leitor: Lula é mesmo o legítimo filho do Brasil! É o representante perfeito de nossa sociedade. Afinal, cada povo não tem o rei que merece?
O grande mal que assola a nossa sociedade é a falta de memória..e ao invés de cobrarmos mudanças, ficamos como galinhas cacarejando contra o galo da vez..nos do povo estamos deixando que a mídia lidere, e os formadores de opinião cantem do amanhecer ao por do sol, ao invés de convocar-nos numa empreiteitada nacionalista, a termos consciencia que precisamos nos unir e eleger representantes ilibados, termos uma consciencia crítica de que o problema das cidades, dos bairros também são nossos problemas e não unicamente dos nossos eleitos, ao qual delegamos plenos poderes inclusive o de promover milagres…
Perfeito, cqd!
Meu artigo ” Arruda : alguma surpresa?” não recebeu um único comentário. Absolutamente sintomático.