Que o sistema capitalista é capaz de gerar riquezas como nenhum outro, não há dúvida, o que poucos compreendem é que tal só é possível por estar fundado na ética do trabalho e da poupança, na meritocracia e, acima de tudo, na liberdade e responsabilidade individuais. A economia americana, berço do capitalismo e também da presente crise mundial, há muito vem deixando esses valores de lado.
As intervenções governamentais, visando estimular o consumo e a aquisição da casa própria, criaram distorções como taxas de juros irrisórias e a expectativa de que, no final, o governo, através de suas agências hipotecárias Freddie Mac e Fannie Mae, assumiria os prejuízos decorrentes de empréstimos mal concedidos. De 2004 a 2006, estas agências compraram US$ 434 bilhões em títulos garantidos por financiamento subprime. Esta distorção abalou a principal regra moral do sistema, a da responsabilização individual, fazendo com que os agentes econômicos perdessem o senso de responsabilidade, gerando e distribuindo riquezas totalmente artificiais. Ao contrário do que supõem alguns, em um ambiente assim, nem mesmo severas regulações seriam capazes de deter a conduta dos bancos e corretoras. O modo de corrigir a crise, infelizmente, incorre nos mesmos equívocos morais que a geraram.
O governo americano, sob o pretexto de proteger a economia, logo se vergou à pressão de grandes grupos empresariais, passando a socorrer empresas cronicamente inviáveis. Ora, para a saúde do sistema, melhor seria deixá-las à própria sorte, perdendo empregos, mas sinalizando que o governo não está aí para ajudar, com dinheiro público, empresas em dificuldades. O governo brasileiro, que tanto alardeia sua independência, não tardou a copiar o mau exemplo, lançando aqui um extemporâneo plano de estatização bancária. A crença infantil – por alguns anos guardada no armário, de que o Estado gastador é capaz de resolver os problemas econômicos, inclusive socializando prejuízos privados, infelizmente está de volta. O fundamento do capitalismo é o incentivo ao trabalho, à poupança e a inovação, em um jogo com regras justas, previamente definidas e sem favoritismos. O pior desta crise, neste contexto, certamente não será a falta de crédito, que mais cedo ou mais tarde passará, mas a deterioração da ética capitalista, cujos efeitos serão muito mais nocivos e duradouros.
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