O Globo, 13 de março de 2006 “O que distingue o que chamamos de tempos modernos dentre os milhares de anos da História? A resposta vai além dos progressos da ciência, da tecnologia, do capitalismo e da democracia. A idéia revolucionária que define a fronteira entre o passado e os novos tempos é o crescente domínio do risco. O futuro não é apenas um capricho dos deuses. Os homens não são passivos ante a natureza. Pensadores brilhantes mostraram ao mundo como compreender o risco, medir suas conseqüências, convertendo decisões de tomar riscos em empreendimentos que dirigem a moderna sociedade ocidental. Como Prometeu, desafiaram os deuses e sondaram a escuridão em busca da luz que transformou o futuro em oportunidade.” Assim Peter Bernstein celebra, em Contra os deuses: a extraordinária história do risco (1996), o controle do risco nos mercados financeiros, nas atividades industriais e agrícolas, nas cirurgias médicas, nas pontes e foguetes construídos por engenheiros e até mesmo nas campanhas políticas, em que as decisões envolvem avaliações de risco. Se por um lado, como resultado dos avanços tecnológicos e institucionais, ampliou-se vastamente nossa capacidade de controlar o ambiente físico primitivo e torná-lo previsível, por outro lado vivemos numa ordem social de crescente complexidade. Prossegue Bernstein: “As descontinuidades, irregularidades e a interdependência global tornaram a gestão de risco um desafio ainda mais complexo. As incertezas econômicas, a insegurança no mercado de trabalho, a saúde e a segurança pessoal, o meio ambiente e até mesmo o planeta Terra parecem estar sob ataque… Mas a Humanidade não retirou a sociedade do controle dos deuses para colocá-la à mercê das leis do acaso.” Sob tais circunstâncias, nas quais a própria complexidade da sociedade e a extensão da divisão do trabalho em uma ordem econômica global aumentam exponencialmente a vulnerabilidade do indivíduo, tornou-se praticamente irresistível a sombra da social-democracia. Aliviando o medo ante a complexa ordem emergente, apelando à solidariedade que outrora denunciara como explorada pelas religiões, a social-democracia oferece os sindicatos e uma legislação trabalhista obsoleta para “garantir” bons empregos e salários, e a previdência pública para “garantir” uma velhice tranqüila. Enquanto isso, em A nova ordem financeira: o risco no século XXI (2003), Robert Schiller elabora: “A insegurança econômica e a desigualdade de renda estão em toda parte. Mas as novas idéias de gestão de risco podem limitar os efeitos da destruição criadora do capitalismo global. Essa nova infra-estrutura de gestão de riscos se utiliza de inovações financeiras para proteção contra perda de emprego, deterioração do valor econômico das casas próprias, piora na qualidade de vida na velhice, obsolescência de uma categoria profissional, riscos inerentes aos tempos modernos.” Existem portanto tecnologias para enfrentar cada tipo de risco sem depender das velhas fórmulas da social-democracia.
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