Nos últimos dias li e ouvi alguns bons acadêmicos que chamaram minha atenção para um fato importante da vida política nacional: não há debate. Digo, há, mas é entre a esquerda, a centro-esquerda, a esquerda festiva, a esquerda histórica, etc. No debate eleitoral, nenhum candidato teve a coragem de analisar, honestamente, a questão das privatizações. Bonés de estatais passaram da cabeça de um para o outro, num notável descaso pelo passado histórico recente.
Há um espaço político que pode ser ocupado. Mas será que há “conservadores”? Aliás, o que é um “conservador”? A esquerda costuma rotular todos os que a criticam de “conservadores” e também de “liberais”, gerando uma confusão que, claro, pode fazer parte da estratégia política: confundir sempre, esclarecer, jamais.
Para simplificar, vou me referir à esquerda como “não-liberais” ou “não-conservadores”, algo que certamente não agride membros destes grupos que estão sempre prontos a se distinguir de qualquer pensamento liberal (ou conservador). E esclareço: um conservador é um sujeito que não curte aborto. Ou o namoro de homossexuais. Adora o liberalismo econômico, mas não necessariamente as liberdades individuais. Um liberal é o cara que se parece com o conservador, mas gosta da diversidade social e valoriza a liberdade individual. Todo “beatnik” foi (ou é) um liberal. Claro, faltou falar dos libertários. Todo libertário é um liberal mais apegado aos seus direitos individuais. Todos acreditam mais nos indivíduos do que no Estado agindo em nome dos indivíduos.
Nem todos os liberais, conservadores ou libertários concordam que a liberação regulamentada das drogas seja uma boa forma de se diminuir a violência derivada de seu uso. O mesmo se observa quanto à sua opinião sobre o papel do governo na economia. Diferentes liberais, conservadores e libertários possuem diferentes graus de aversão ao poder do governo de lhes ditar o que devem fazer com suas vidas.
Complicado, né? Isto porque, tal como no grupo dos não-liberais, há diversidade.
É difícil ver um partido destes no Brasil porque os liberais possuem uma rejeição natural ao uso de mecanismos políticos como forma de alocar recursos na sociedade. Qual seria a agenda positiva de um partido conservador (ou uma confederação de liberais, conservadores e libertários)?
Em princípio, é necessário defender o Estado eficiente (que é, sim, menor do que este que temos hoje) e as liberdades individuais (incluindo a de imprensa e a religiosa). Mas há que se atentar para um problema que, creio, é fundamental: muitas pessoas acham justo usar do dinheiro alheio, através do governo, para se beneficiar. Explica-se isto porque o sujeito raciocina com uma dicotomia entre a liberdade individual (”tenho o direito de beber cerveja…”) e a liberdade econômica (”… às suas custas”.).
Quando esta dicotomia assume proporções notáveis, você vê, por exemplo, um empresário pedir subsídios, enquanto até defende seu direito de ir e vir. Ou então você vê um estudante que defende o vale-transporte para si, mas nem liga para a responsabilidade fiscal no setor público. Quem paga o subsídio? Quem paga o vale-transporte? Não importa.
Se você quer começar um partido conservador tem que pensar em todos estes problemas. Bom, ninguém disse que seria fácil…
O sua reflexão sobre a falta de um partido conservador no Brasil, é perfeita, parabéns!