O debate sobre o Rio Grande que queremos, neste momento de sucessão política, é fundamental para resolvermos desafios históricos de nosso Estado. Por isso, gostaria de, mais uma vez, convidar os leitores para uma reflexão sobre o futuro dos gaúchos. No artigo anterior, comentei sobre a necessidade de o próximo governo priorizar as áreas de educação, previdência estadual e equilíbrio entre investimento e arrecadação. São questões prioritárias que vêm sendo discutidas pela Agenda 2020, um movimento da sociedade gaúcha com visão de longo prazo, o qual mobiliza educadores, trabalhadores, sindicatos, poder público, empresários, universidades e partidos políticos, entre outros.
É a partir da melhoria dessas áreas que poderemos ampliar os investimentos no Estado e desenvolver tecnologias inovadoras, agregando valor aos nossos produtos nos mais distintos segmentos da economia. Devido à nossa distância em relação ao centro do país e da limitação do mercado gaúcho, temos uma elevada dependência de infraestrutura e logística. O problema é que esse custo, no Rio Grande, é mais elevado do que em outros Estados e países, reduzindo a competitividade dos produtos gaúchos.
Para se ter uma ideia, o custo com logística, por exemplo, representa aproximadamente 18% do PIB gaúcho, enquanto que, em economias mais desenvolvidas, esse patamar não passa dos 9%. Precisamos, por exemplo, ampliar o aeroporto Salgado Filho e investir em 39 trechos de rodovias fundamentais para o escoamento da produção. Estima-se, por exemplo, que o Estado deixe de gerar R$ 2,4 bilhões por ano devido à impossibilidade de as empresas gaúchas exportarem grandes quantidades de carga pelo aeroporto Salgado Filho. Além disso, o custo anual de uma hora de engarrafamento diário na BR-116 Norte chega a R$ 624 milhões. Também faltam ferrovias e hidrovias com boas condições para o Estado conseguir ampliar a competitividade de seus produtos. Por que não aproveitar melhor os mais de 900 quilômetros de nossos rios e lagos potencialmente navegáveis?
O tema da inovação é ainda mais relevante para regiões como o Rio Grande do Sul, que, por não terem mercados significativos próximos, devem trabalhar com produtos de maior valor agregado. Precisamos aproveitar a boa rede de universidades existentes para melhor conectá-las ao setor produtivo e fazer da pesquisa aplicada um diferencial competitivo do Estado. Tivemos avanços significativos nessa área, como o aprimoramento da legislação e de centros de inovação, mas ainda há muito que evoluir.
Os gastos com pesquisa e desenvolvimento no Estado ainda são muito baixos – representam 0,18% do PIB estadual, contra uma média nacional de 1,36%. Em países como os Estados Unidos e a Coreia do Sul, os patamares oscilam entre 2,8% e 3,2%. Além disso, estudos demonstram que, a cada R$ 1 de aumento na demanda final de produtos de tecnologia da informação, há um crescimento de R$ 0,79 na renda familiar média.
Conhecer nossas limitações e desafios é o primeiro passo para corrigi-los, e a Agenda 2020 (www.agenda2020.org.br) tem contribuído de forma significativa para isso. As metas e sugestões desse movimento, definidas por meio do trabalho voluntário da nossa comunidade, representam uma excelente ferramenta para apoiar os poderes Executivo e Legislativo na definição de políticas em prol do futuro do Rio Grande.
Fonte: Jornal “Zero Hora” – 22/08/10
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