Mais uma semana de volatilidade nos mercados, desta vez causada pelos boatos em torno da situação da economia grega e sua capacidade de cumprir com os vencimentos de dívida neste início de 2010. No cenário doméstico, o “binômio inflação atividade econômica” continua como foco das atenções dos mercados diante da proximidade da próxima reunião do Copom, agora nos dias 16 e 17 de março. Vejamos então o que foi destaque nesta semana, com comentários pertinentes.
Pacote grego. Num esforço concentrado do governo grego, na semana passada foi anunciado um pacote de ajuste nas contas públicas, visando obter uma redução do déficit, estimado em torno de 12,7% do PIB, e um possível ganho de credibilidade junto à comunidade financeira internacional. O déficit recuaria a 8,7% do PIB num primeiro momento para, gradualmente, recuar a 4% até 2015. Com isto, a Grécia teria mais espaço para rolar sua dívida pública, atualmente em torno de 113% do PIB. Para maio, inclusive, o volume de títulos a vencer se aproxima dos US$ 53 bilhões. Sendo assim, como obter estes recursos diante de um histórico de deterioração fiscal e muito populismo? Apenas com o compromisso de um ajuste rigoroso nas contas públicas. Neste esforço, o governo grego emitiu bônus de 10 anos na semana passada, visando a captação entre US$ 3 e 5 bilhões, mas, diante de um prêmio de 6,4% anuais, a demanda acabou ficando acima do esperado, chegando a US$ 20 bilhões.
Ou seja, a ideia foi anunciar um mega pacote fiscal, para então obter recursos e o aval da Comunidade Europeia, sem deixar de descartar o apoio financeiro do FMI. Estimativas falam numa injeção de US$ 41 bilhões por parte dos outros países membros da Zona do Euro. O obstáculo maior, porém, é político, pois os contribuintes dos maiores protagonistas deste bloco de livre comércio, a Alemanha e a França, não estariam dispostos a dar suas cotas de sacrifício para ajudar um país com histórico de irresponsabilidade e populismo no trato das contas públicas. Mesmo assim, foi anunciado um extenso pacote fiscal, com cortes estimados em torno de 4,8 bilhões de euros. O problema é que um default da Grécia tende a ser um tiro no pé para a moeda europeia, colocando em dúvidas a consistência econômica dos 16 países membros, sem esquecer o efeito espalhamento sobre os outros países do PIIGS, todos em situação fiscal delicada, desemprego em alta e frágil capacidade de reação.
Indústria se expandido moderadamente. Por aqui, continuamos olhando com lupa o desempenho da Indústria, do Comércio e da inflação. Nos dados de janeiro, a produção industrial mostrou certa recuperação, avançando 1,1% contra dezembro, depois de dois meses em queda (-1,0%), com os segmentos de bens intermediários e de duráveis avançando (2,0% e 8,6%, respectivamente), mas com os bens de capital recuando 0,1%. Isto, somado à estabilidade do Nível de Utilização da Capacidade Instalada, mantido em torno de 81,7%, nos levam a acreditar numa acomodação da Indústria neste início de ano. Mesmo assim, o forte avanço de 16% contra janeiro de 2009 é um indicativo de forte expansão em 2010, com uma convergência entre Comércio e Indústria, ambos crescendo em torno de 8%. Ou seja, há uma expansão na atividade econômica, mas, por enquanto, sem grandes impactos inflacionários. O problema é que a demanda sempre responde muito fortemente aos estímulos de crédito e de renda, ao contrário da produção. Daí o receio da inflação.
Inflação em alta, mas cedendo em março. A inflação deu uma repicada no primeiro bimestre deste ano, com impactos pontuais nos alimentos, nos reajustes das mensalidades escolares e na alta dos transportes. Estes itens, no entanto, embora sazonais, vieram mais altos do que no mesmo período do ano passado, com o IPCA registrando 1,54% no primeiro bimestre deste ano contra 1,03% no mesmo período do ano passado. Isto pode ser um indício de economia mais aquecida. Mesmo assim, o IPC da FIPE cedeu entre janeiro e fevereiro, assim como outros índices, como as prévias recentes do IGPM. Isto nos leva a acreditar nos efeitos pontuais deste início de ano, mas sem esquecer o aquecimento da demanda. O IPC da FIPE, por exemplo, cedeu em fevereiro, registrando 0,74% contra 1,34% em janeiro. Contribuiu para isto o recuo dos itens Transportes, de 4,88% para 1,14%, Educação, de 4,42% para 0,21%, e Alimentação, de 1,57% para 1%. Por outro lado, Habitação voltou a subir, passando de 0,15% para 0,77%. Já o IPCA acabou aquém do esperado em fevereiro, registrando 0,78%, a maior taxa desde maio de 2008, no mesmo patamar de janeiro (0,75%). No ano, o índice avançou 1,54% e em 12 meses 4,83%, acima, portanto, da meta do ano (4,5%). O maior impacto veio do item Educação, registrando 4,53%, com 0,32 pontos percentuais de impacto no índice do mês. Já o item Alimentação passou de 1,13% para 0,96% com impacto de 0,22 p.p..
Decisão do Copom. Concluindo, com o uso de outros instrumentos de política monetária, como o compulsório, o BACEN deve amortecer uma possível elevação da taxa de juros agora em março (dias 16 e 17). Em vez de elevar em 0,5 pontos percentuais, pode ficar nos 0,25 p.p.. Para os próximos meses, há a possibilidade de novos ajustes, a partir do comportamento das principais variáveis envolvidas no balizamento desta decisão. Ao fim deste ano estamos prevendo a taxa básica de juros em torno de 11%.
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