A educação e os esportes. Os brasileiros precisam de investimentos em educação para aumentar sua empregabilidade, sua produtividade e seus salários. Para ganhar o pão de cada dia na moderna sociedade do conhecimento. Além dos recursos públicos, novas ondas de investimentos privados foram disparadas nos últimos anos para melhor formação do capital humano, particularmente nos estágios educacionais mais próximos das necessidades dos mercados de trabalho.
E as atividades esportivas em geral, particularmente os esportes coletivos, são parte de uma boa formação física e moral. Estimulam a cooperação, o trabalho de equipe, o respeito às regras do jogo, a compreensão do papel da sorte como fator indissociável da vida. A lição é que não se pode ganhar sempre, mas o importante é dar o melhor de si e não desistir nunca. Os esportes promovem também a socialização de jovens em comunidades de baixa renda, como trilhas alternativas aos bandos de iniciação na violência e no crime. E selecionam os mais talentosos para rentáveis carreiras profissionais na moderna sociedade do entretenimento.
Mas a própria importância da educação e dos esportes para os brasileiros tem permitido uma indesejável complacência quanto à situação pré-falimentar de inúmeras e importantes instituições em ambas as atividades. O excesso de encargos trabalhistas, de um lado, e a falta de administrações profissionais, de outro, estão degradando gradualmente a saúde financeira e a capacidade de atuação dessas instituições.
Sim, alguns dos mais importantes clubes de futebol, bem como escolas e universidades de enorme tradição e uma longa história de bom desempenho, com ativos e marcas de considerável valor de mercado, permanecem em estágio avançado de degeneração financeira.
As escolas em dificuldade atrasam os pagamentos dos professores, deixam acumular dívidas astronômicas com a Previdência Social e entram em lenta agonia pelo declínio da qualidade e a consequente perda de alunos. Os clubes atrasam os pagamentos dos atletas, não recolhem seus encargos trabalhistas, recorrendo à venda prematura de seus maiores artistas para o exterior e derrubando a qualidade de nosso futebol. O governo não receberá o acúmulo de impostos passados, como também deixará de recolher os impostos futuros enquanto permanecer a sangria dessas instituições.
Agora, com a crise global, sabemos todos que o crédito é o lubrificante das economias de mercado, e que qualquer interrupção em seus fluxos trava toda a engrenagem. É por isso que as crises bancárias são atacadas de forma fulminante pelos governos, com as intervenções, a reestruturação e o saneamento do setor. Pois o mesmo esforço deveria ser feito com as escolas e os clubes de futebol, cujos milhões de alunos e torcedores certamente atrairiam investimentos maciços sob regulamentação adequada. Afinal, desde Roma Antiga ninguém vive sem pão e circo.
(O Globo – 04/05/2009)
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