Vivemos tempos de euforia. Conseguimos ser sede de uma Copa do Mundo em 2016, agora conseguimos uma Olimpíada dois anos depois, somos investment grade na avaliação das três principais agências de rating, estamos saindo primeiro da crise do que muitos países, com as projeções de PIB já sinalizando taxas positivas tanto neste ano como no próximo. Corroborando isto, o influxo de recursos externos segue intenso, como podemos observar pelo gráfico a seguir.
Pelos dados de setembro, o saldo cambial fechou positivo em US$ 1,36 bilhões, com grande contribuição do saldo financeiro, que foi a US$ 4,59 bilhões, em função do forte ingresso de investidores para as bolsas de valores, assim como para renda fixa e para investimentos produtivos.
Os IPOs recentes, a queda do juro doméstico e os bons fundamentos domésticos ajudam a explicar esta atratividade pelo mercado brasileiro. Por outro lado, pelo lado comercial o resultado acabou negativo em setembro em US$ 3,22 bilhões, decorrente dos exportadores manterem seus dólares no exterior para o pagamento de dívidas. Como se observa no gráfico a seguir, este saldo geral vem se mantendo positivo há seis meses, o que confirma esta reconquista da confiança externa nas potencialidades do nosso País. O pior é que isto deve se aprofundar ainda mais, quando são previstos novos IPOs no mercado brasileiro, além do retorno das multinacionais focadas na ampliação das suas subsidiárias, a partir da preservação da renda e do mercado consumidor interno.
No ano, o saldo cambial é positivo em US$ 9,68 bilhões, ainda recuando 45% sobre o mesmo período do ano passado, mas mostrando grande capacidade de recuperação nos meses recentes.
O problema é que neste processo de abundância de divisas, o dólar acaba sofrendo forte depreciação, o que vem ocorrendo também em outros mercados. Na verdade, com os EUA tendo crescido e gasto além da sua capacidade, acabou sendo gerado um forte desequilíbrio externo nos últimos anos, com o saldo externo passando de 6% do PIB, assim como uma forte deterioração fiscal, com a dívida pública ameaçando romper os 10% do PIB no médio prazo. Com isto, uma onda de aversão ao risco aos EUA acabou ocorrendo, não sendo difícil encontrar os que já começam a substituir o dólar como referência nas transações comerciais internacionais.
Além disto, como a taxa de juros norte-americana, assim como de outros países ricos, se encontra muito baixa, vem ocorrendo uma forte migração de investidores para os mercados emergentes, como no caso brasileiro, ainda com um ganho de arbitragem relevante.
Sendo assim, por aqui a dúvida das últimas semanas vem sendo como administrar esta abundância de recursos. Se por um lado ela é positiva, por baratear os investimentos, com as importações de máquinas e equipamentos mais baratas, além de servir como um amortecedor inflacionário pelo aumento das importações, pelo lado negativo, vem derrubando, aos poucos, as exportações, que só não caem mais em função das exportações de commodities para os mercados asiáticos. Isto até pode ser observado pela perda de força dos bens manufaturados na pauta de exportações, recuando a 45% desta, com o aumento dos bens básicos, já acima destes na pauta.
Neste ano, até outubro, o real já se apreciou cerca de 25%, negociado na semana passada em torno de R$ 1,74, com muitos no mercado acreditando ser possível cair abaixo de R$ 1,70 ao fim deste ano. Visando amenizar este quadro, o BACEN vem operando no mercado, comprando divisas, tendo chegado a US$ 3,5 bilhões em setembro, totalizando US$ 14,3 bilhões até o mês passado, deste que a autoridade monetária retornou ao mercado em maio passado. Com isto, as reservas cambiais já passam de US$ 226 bilhões, um importante colchão de liquidez, mas também com custos fiscais elevados, pela elevação da dívida pública em títulos públicos.
Neste cenário, as alternativas pensadas foram variadas, como taxação e quarentena para os recursos entrantes, taxação sobre as importações, dentre outras. No entanto, o que pouco se fala por aí é que câmbio flutuante é assim mesmo, serve para medir o grau de sucesso de uma política econômica, ou mesmo para fazer chegar aos mais afoitos que a capacidade competitiva de uma economia não pode ser medida pela variável câmbio, um dos preços-chaves da economia, mas sim pela superação dos chamados gargalos estruturais da economia.
Neste caso, os problemas são variados e crescentes. Temos uma estrutura tributária ainda complicada e ineficiente, nossos custos trabalhistas inibem a formalização do mercado de trabalho, nossa estrutura sindical remonta aos anos 30, o regime previdenciário é uma bomba para estourar no futuro, etc. Enfim, são tantas as reformas a serem feitas. Este governo e outros, no entanto, optaram pelas soluções fáceis e sem desgaste político eleitoral. Empurram os problemas estruturais para frente e não assumem que estes não são simples, mas devem ser resolvidos. Que o próximo presidente eleito assuma o desgaste de resolvê-los. Enquanto isto, os empresários clamam contra o câmbio apreciado e a falta de competitividade. Até quando?
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