A última desocupação dos alunos da Reitoria da Universidade de São Paulo (USP), na verdade mostrou o lado nefasto do movimento estudantil, e da própria educação superior brasileira.
Durante anos, os diversos indicadores internacionais sobre educação, inovação e competitividade do Brasil, que são apresentados pelo Ministério da Educação (MEC), Governo Federal, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Organização das Nações Unidas (ONU), International Institute for Management Development (IMD), entre outros organismos, confirmam o caminho desastroso que o Brasil insiste em seguir.
As greves, ações de vandalismo, destruição e falta de debate político democrático que acontecem na USP, na verdade, já fazem parte do calendário anual, e o pior, os diversos, e até muitos alunos e professores da USP que não fazem parte deste processo destrutivo, ficam em um estado de passividade total, quase letárgico, ou lisérgico. E o mais interessante, o debate em defesa das greves e ocupações é de uma fraqueza política e de confirmação da manipulação dos estudantes por grupos políticos que preferem a desordem social e educacional, do que efetivamente buscar soluções acadêmicas e aplicadas de primeiro mundo, considerando, inclusive, a grande demanda estratégica e competitiva que as empresas, e o próprio governo têm. Mas não, a lógica que impera é da destruição por si só, ou para um embate político.
A destruição que aconteceu nesta última ocupação, além dos atos de vandalismo durante uma festa, ou quiçá possa ser chamada de orgia, na verdade, demonstra que todos saíram perdendo e destruíram suas imagens, seja o Reitor da universidade, o Governador, os partidos políticos que inflam de forma irresponsável estes movimentos, os estudantes que não cumprem o seu papel em realmente produzir conhecimento, os professores que por passividade ou por enaltecer a discussão sem diálogo e a sociedade como um todo, que por sinal, essa sim é a maior prejudicada do processo.
Sabemos e reconhecemos que a USP é um dos grandes centros do saber da América Latina, mas a insistência de um debate fraco, não nos dá margem para avaliar se a mesma teria um dia o perfil de uma Harvard ou de um Massachusetts Institute of Technology (MIT), ou até mesmo de uma London School, mas insiste em nivelar por baixo todo seu processo político e acadêmico.
Que competitividade e inovação mundial poderão ser debatidas no Brasil sob essa ótica da mobilização destrutiva? Por que os mesmos alunos não estão debatendo investimentos efetivos, projetos acadêmicos consistentes, atualização do corpo docente, infraestrutura, melhores salários dos professores e parcerias acadêmicas internacionais? Por que os mesmos não fomentam a presença de empresas e organismos internacionais dentro da instituição, e perdem tempo com a discussão da presença da Policia Militar no Campus? Por que os mesmos não questionam segurança colaborativa no campus? Será que isso tudo atrapalha a “festa” regada a drogas, bebidas, sexo, e outras “cositas mas”?
A sociedade brasileira cobra todos os dias educação com qualidade superior. O mercado cobra mão de obra altamente qualificada. As universidades estrangeiras querem enviar alunos ao Brasil, mas não conseguem, pois as universidades brasileiras não são internacionalizadas.
Veja o exemplo nacional: das 2.136 instituições de ensino superior (IES), somente 27 atingiram a nota máxima no Índice Geral de Cursos do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (IGC Enade) 2011 do MEC (indicador de 1 a 5); 75% das IES estão entre as faixas 3 e 2. Assim, o Brasil é mediano. Brasileiro tem uma mania “porca”, a excelência é inimiga do bom, o brasileiro prefere o bom à excelência.
Quando você conversa com alunos da USP, e também professores, são notórias e constantes as reclamações de falta de infraestrutura, de recursos, de projetos consistentes, de greves contínuas, de professores faltosos, de falta de incentivos, sem contar a “politicagem” que impera desde sua fundação.
E se formos analisar sob o aspecto de publicações, produções acadêmicas e patentes, a situação piora. E para o Brasil, a situação é drástica, pois a USP representa o principal indicador internacional, mas pela sua lógica de universidade, o que produzimos não atende às necessidades do país.
Os últimos acontecimentos na USP só trazem uma reflexão para o cidadão comum, “nunca teremos uma Harvard no Brasil”. Tínhamos chance de ter, mas pelo andar da carruagem, o Brasil manterá sua política de importar conhecimento. Política burra e cara.
Depois de ler no Estadão que mais de 98% do orçamento da USP é gasto em salários fiquei mal. Não tem qualquer chance de virar uma universidade de referência mundial. Como tudo que é público no Brasil, qualquer infra-estrutura só é renovada quando cai aos pedaços.