Não há dúvidas que o crescimento e o desenvolvimento econômico são capazes de gerar, por si só, um efeito pedagógico inerente ao aumento da renda. A participação de mais pessoas no espaço urbano, a expansão dos serviços, o crescimento do comércio, o aumento de oportunidades, o turismo e o intercâmbio cultural, capacitam o cidadão e melhoram o nível sociocultural da sociedade como um todo.
Ocorre, todavia, que não é apenas pelos efeitos da política econômica e do poder de compra médio da sociedade que se pode construir uma nação com raízes sólidas, ou, mais propriamente, uma sociedade capaz de gerar riquezas e caminhar a passos mais largos para um lugar de destaque no mundo desenvolvido. O aumento momentâneo do poder aquisitivo e da capacidade financeira do cidadão, tão explorados pelos governantes e campanhas eleitorais, não são suficientes para suprir uma das maiores carências de nosso país: a deficiência do processo educativo formal.
Enquanto não houver efetiva prioridade à educação fundamental e de base, concentrada principalmente nos primeiros anos de estudos, jamais atingiremos um patamar sustentável de crescimento. Não atrairemos, também, capital externo nos segmentos econômicos de maior atratividade e valor agregado, como ciência, tecnologia e serviços. Aproveitar o cenário econômico favorável, visando a resultados de longo prazo, é desenvolver a potencialidade dos recursos humanos de nosso país, preparando-o efetivamente para a geração de suas próprias riquezas e capacitando sua força de trabalho. Afinal, crescimento econômico virtuoso é aquele que marcha para a construção de um legado positivo e próspero para as novas gerações. E isso só pode ser obtido com investimento em educação básica, em ensino fundamental e na garantia do valor do mérito e do trabalho.
Para se atingir tal desiderato, é urgente a mudança na gestão da educação pública. A profissionalização e a eficiência dos métodos de gestão utilizados na iniciativa privada precisam ser rapidamente espelhadas na educação, assim como a efetiva medição de resultados e a meritocracia merecem ser implementadas em escala muito mais larga e universal.
A priorização da educação de qualidade e de ponta passa pela ideia e, principalmente, pela virtude de deixar de lado dividendos políticos imediatos, exigindo um esforço coordenado da sociedade e dos governantes em prol do que há de mais valioso em uma nação: a instrução e a formação de seu povo. O aumento do poder aquisitivo médio da população somente deve ser comemorado com a parcimoniosa consciência de que, por si só, não suplantará as flagrantes carências da educação formal do Brasil.
Fonte: Zero Hora, 08/09/2012
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