Faz 10 anos que Sergio Vieira de Mello nos deixou. O vazio ainda ecoa com força, transcendendo, em muito, as fronteiras nacionais. Aliás, a obra deixada pertence ao mundo e não apenas ao Brasil. Sergio foi, sem dúvida, um dos melhores seres humanos que passou por esta vida. Filho de Arnaldo Vieira de Mello, diplomata cassado pelo regime militar, o notável brasileiro, com muito esforço e poucos recursos, concluiu com brilhantismo sua graduação na Sorbonne, tendo, posteriormente, recebido o prestigioso título de Doctorat d’État ès Lettres et Sciences Humaines pela renomada universidade parisiense. Certa vez, escreveu: “fazer filosofia é tê-la no seu sangue e fazer o que pouquíssimos farão: ser um homem e pensar sempre e em toda parte”.
Tendo participado dos movimentos de rua de Paris em maio de 1968, Vieira de Mello, por duras experiências vivenciais, foi, ao longo do tempo, aprendendo a combinar a leveza do idealismo teórico com a crueza pragmática da política internacional. Talvez tenha sido justamente esta especial capacidade de pensar com o coração, mas enxergar com os olhos pulsantes da razão que o transformaram em um diplomata com extraordinária percepção dos problemas do mundo. Problemas, aliás, que, conforme Sergio ensinou, não são dos outros, mas nossos. E, por assim ser, cabe a nós resolvermos com humanidade e compaixão.
A inteligência humana, capaz de fazer as maiores maravilhas e invenções, é, quando mal usada, uma arma letal de atrocidades sem fim. Ao trabalhar em Bangladesh, Sudão, Chipre, Moçambique, Líbano, Camboja, Bósnia, Ruanda, Kosovo, Timor Leste e, por fim, no Iraque, Sergio bem conheceu a ambivalência e fragilidade humana em cores nem sempre vivas. Apesar de todas as dores e mazelas do mundo, jamais perdeu sua visão nobre e altiva. Ao chefiar a ajuda humanitária da ONU na dramática guerra da Bósnia, em seu primeiro dia em Gorazde, entre escombros, corpos e rastros inimagináveis de violência, Vieira de Mello fez questão descer com seu terno impecável, dizendo para o olhar desconfiado e irônico de seus assessores: “Se nos mostrarmos na melhor aparência, vamos lembrar as pessoas daqui da dignidade que elas costumavam ter”.
Sergio era assim um vivo homem de campo e não, um insosso burocrata empertigado; gostava de se fazer presente, muitas vezes sem colete à prova de balas, para ter a exata dimensão da tragédia e, dessa forma, buscar soluções viáveis e eficazes que só a realidade ensina. Para completar, Vieira de Mello era um homem cativante, charmoso, muito hábil com o público feminino e suas deslumbrantes belezas naturais. Em um mundo tão pobre de lições de humanidade, lembrar de Sergio Vieira de Mello significa reacender a chama da esperança de que é possível construir uma época de paz, dignidade e solidariedade humana. Tal como ele, basta querer. Por que, então, não tentar?
Fonte: Estado de Minas
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