É sempre bom acompanhar as notícias do nosso Brasil. Há muito o que se pensar quando o assunto é coerência ou discurso. Por exemplo, no caso do desastre aéreo da TAM, a VEJA, outrora revista “do mal” para 11 em cada 10 simpatizantes do presidente da Silva, virou, aos olhos dos mesmos, uma fonte confiável ao afirmar que a culpa seria do piloto, não da pista fiscalizada pelos funcionários responsáveis do modelo aéreo do governo atual.
Outro vilão, o tal individualismo, por enquanto, virou paradigma de muita gente. Todo liberal assim o é porque defende que cada indivíduo arque com os custos ou usufrua dos benefícios de suas ações. Para tanto, é importante saber quem é o responsável por isto ou aquilo. Claro, há situações em que as ações de uns afetam as dos outros o que, claro, só reforça a importância de se definir claramente as responsabilidades de todos.
Bastou que alguns assessores do presidente da Silva expressassem sua sincera opinião sobre aspectos técnico-políticos do desastre para que, subitamente, todos quisessem saber “quem é o responsável”. Todo aquele discurso da “herança maldita”, do “modelo regulatório” ou, sei lá, da “sociedade burguesa”, tudo se queimou junto com o hangar da TAM. Agora, os outrora coletivistas querem saber quem é o responsável. São todos, pelo menos temporariamente, individualistas e quase liberais. Um exemplo de “liberalismo de circunstâncias”.
Na hora de pedir favores especiais ao governo, setores da indústria choram, berram e fazem previsões catastróficas sobre o futuro “sob esta taxa de câmbio”. Benefícios? Claro, devem ser individualizados. E os custos? O povo paga. A sociedade paga. Quem é “a sociedade”? Não importa. Depois alguém no Congresso (ou nos gabinetes) decide. A responsabilidade individual, nestas horas, desaparece. Ninguém quer ser punido. Alguém se lembra do episódio do novo secretário que parou na vaga para deficientes e tentou disfarçar? Pois é.
O pior de tudo é a confusão que se cria, com falsos discursos, para culpar o tal “modelo liberal” por tudo o que acontece no país. Como isto é possível se nem a classe média, suposto bastião do liberalismo, exige de seus membros responsabilidade individual? Outro dia um pai se lamentava pela possibilidade de que seu filho, universitário, fosse para a cadeia por conta de “umas bolachas” numa empregada (que, lembre-se, foi confundida com uma prostituta….). Estes bizarros argumentos só “pegam” porque é cômodo para muitos (além dos originariamente adeptos da malandragem). O não-liberalismo é popular porque exime cada um de nós da responsabilidade, da culpa. Qualquer problema, claro, peça um favor (eu chamo de esmola, mas tudo bem) ao político mais próximo, este especialista em concentrar benefícios e dispersar custos. Ele resolve…às custas de alguém. Que ética genial esta que condena o empreendedor que satisfaz o consumidor e exalta aquele que cria métodos novos de transferir dinheiro de uns às custas de outros!
Claro, se alguém fizer uma marcha de protesto contra o presidente da Silva e sua forma de governar, trata-se de conspiração de gente neoliberal, da burguesia, do capital sem alma. Engraçado este último termo – parece ecoar da boca de um padre carrancudo – “capital sem alma”. Eu tenho o número da minha agência e da minha conta. Sei onde aplico meu suado capital. Mas sem alma mesmo, sem identidade, são estes que preferem disputar quem será alvo da seguradora da TAM ao invés de, imediatamente após o acidente, dar os pêsames àqueles que, após meses de tratamento de qualidade duvidosa nos aeroportos, agora perdem parte de seus familiares.
É isto que impera no Brasil. O oposto do liberalismo. Um mundo (possível) no qual nunca há culpados. Exceto, claro, os pagadores de impostos. Estes idiotas que insistem em criar filas nos aeroportos só para atrapalhar a vida dos outros.
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