Há tempos escrevi que as reformas morreram no Brasil. No entanto, as circunstâncias e os desafios que se apresentam demonstram que o Brasil de hoje não está preparado para o sucesso por conta de questões fundamentais.
Questões que somente serão enfrentadas com o aprofundamento do processo de reformas, que ocorre há quase 20 anos.
Agora, às portas de um ciclo virtuoso de crescimento, o Brasil se depara com uma imensa barreira, que é o velho conhecido Custo Brasil, um conjunto de aspectos fiscais, burocráticos e de infraestutura, entre outros, que encarece os produtos e os investimentos no país.
Para enfrentá-lo de forma adequada, o Brasil terá que ressuscitar o tema das reformas, para que não perca a imensa oportunidade – mais uma – que se apresenta em nossa história.
Para tentar esclarecer e dar números à questão, a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) fez um amplo e detalhado estudo que chega a uma trágica conclusão: o Custo Brasil, composto por um conjunto de fatores que comprometem a competitividade, encarece, em média, 36,27% o preço do produto brasileiro em relação ao fabricado na Alemanha e nos Estados Unidos.
Ou seja, de acordo com o estudo da Abimaq, mesmo com salários maiores na Europa, um determinado produto seria fabricado com um custo 36,27% menor na Alemanha do que aqui.
É por isso que a participação do Brasil no comércio mundial é ridícula e está estagnada, apesar do aumento das exportações nacionais. Tal distorção ainda é ampliada pela política cambial, o que termina favorecendo a importação ao invés da produção local.
Em resumo, o Custo Brasil exporta empregos do Brasil para o exterior.
O estudo da associação avaliou apenas oito componentes do Custo Brasil, a saber: a relação da política monetária com o capital de giro; o preço de insumos básicos; impostos não recuperáveis na cadeia produtiva; encargos sociais e trabalhistas; logística; burocracia e custos de regulamentação; custos de investimento e custos de energia.
Para atacar de frente a questão, o futuro presidente deve retomar a agenda de reformas. Inclusive aquelas consideradas tabu, como a trabalhista.
O novo presidente e o Congresso deveriam se comprometer com uma agenda que simplificasse o sistema tributário; reduzisse a burocracia estatal; aumentasse a transparência do funcionamento da máquina pública; reduzisse o custo de contratação da mão de obra e reduzisse o custo da intermediação financeira, entre outros temas que estão na agenda dos fatores impeditivos ao pleno crescimento econômico e social do Brasil.
A chegada de expressivo contingente de consumidores ao mercado está dando a ilusão de que o Brasil é um país economicamente saudável. Não é.
Para termos um ciclo sustentável de crescimento, além dos investimentos em infraestrutura, distribuição de renda e fortalecimento do mercado interno, que são muito importantes, temos que fazer mais. E as reformas fazem parte do dever de casa.
Fonte: Jornal “Brasil economico” – 25/05/10
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