O título é inspirado em artigo de Archon Fung sobre a América Latina. Fung acredita que a região pode estar passando por profundas transformações que significariam a reinvenção da democracia.
Seu texto é uma análise de quatro livros que tratam da democracia na região. Na verdade, apenas um trata da América Latina.
Os outros três tratam do Brasil. O mais importante em seu livro é considerar que o Brasil estaria no epicentro da revitalização democrática e da criatividade institucional.
Tal afirmativa é forte – e, para muitos, despropositada -, em se tratando de um país que ainda assiste a tantos escândalos e ainda apresenta traços arcaicos no modo de conduzir a política.
No entanto, por mais otimista que possa ser, a afirmação de Fung não é desprovida de fundamento.
Muitos estão ocupados em encontrar defeitos no sistema político nacional. Eu mesmo já escrevi milhares de linhas sobre isso.
É fácil. Difícil é encontrar bons exemplos que representem avanços concretos na direção do fortalecimento da democracia.
Um dos aspectos saudados como inovador por Fung é o Orçamento Participativo (OP), criação do PT gaúcho que institucionalizou o debate sobre as prioridades orçamentárias dos municípios.
O OP foi implementado em 1989 pelo ex-prefeito Olívio Dutra (PT), foi mantido pelo PT durante os 16 anos em que o partido governou Porto Alegre e foi seguido pelas gestões de José Fogaça (PMDB) e José Fortunatti (PDT).
Devido à sua longevidade, essa iniciativa de participação popular ganhou projeção nacional e internacional.
Mesmo com todo esse prestígio, o Orçamento Participativo foi muito questionado em Porto Alegre durante os governos do PT na cidade.
Como os prefeitos petistas não tinham maioria na Câmara de Vereadores, o OP também foi utilizado como uma forma de conquistar apoio popular, sobretudo nos bairros mais carentes.
Por conta disso, a oposição classificava o OP como uma medida que buscava enfraquecer a democracia representativa. Outra crítica era que as comunidades beneficiadas pelo OP eram aquelas cujos líderes comunitários tinham ligação com o PT.
Independentemente dessas avaliações, o fato é que o OP foi uma medida exitosa de democracia direta.
Outra iniciativa que deve ser saudada como parte do arsenal de medidas não eleitoreiras e que fortalecem a democracia é a criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República (CDES).
Composto por 90 cidadãos representativos de vários setores, o CDES funciona como uma espécie de conselho consultivo para a Presidência acerca dos mais variados assuntos que impactam a sociedade.
Em pouco menos de dez anos de existência, o CDES foi capaz de propor soluções e ações que se materializaram tanto como políticas de governo quanto como leis aprovadas no Congresso.
Revelou-se interessante, ainda, para o Distrito Federal e para os estados.
Considerando nossas fragilidades institucionais, estamos longe de representar um modelo para a reinvenção da democracia. Os avanços são lentos e muitas vezes tolhidos de seus aspectos mais inovadores.
Porém, algumas das novas iniciativas – como as duas mencionadas – se revelam bastante interessantes para institucionalizar uma participação mais efetiva da sociedade civil na governança do país.
Fonte: Brasil Econômico, 13/03/2012
O “orçamento participativo” foi uma criação do PSDB posta em funcionamento durante a administração do prefeito de Belo Horizonte, Pimenta da Veiga. Depois a idéia foi apropriada pelo PT que, como nos programas sociais de FHC apenas mudou o nome da proposta e se disse autor da mesma. Já na prefeitura de BH, Pimenta da Veiga fazia reuniões em locais previamente marcados com a população e discutia as prioridades de cada região. Mais um roubo de idéias que o PT cometeu. Como disse Aécio Neves: o PT é um sofhtware do PSDB.
Sempre pensei que o Imil fosse contra a democracia direta. No entanto, eis aqui um texto saudando uma iniciativa neste sentido. Alvíssaras! Nem tudo está perdido 🙂