Há um mês atrás eu tinha resolvido escrever somente sobre cultura. É o que gosto, minha área e meu prazer. E todo o resto me entristece, num Brasil que teima em jogar as oportunidades pela janela e dar sinais de desprezo pela lógica e ética.
Mas como posso escrever sobre atores, sobre teatro e sobre um livro se o assassino do menino João Hélio foi solto e será bancado pelo Estado? Daqui a pouco isso será esquecido e vida que segue. Menos para os pais e parentes do menino. Porque a dor é uma propriedade privada e inesquecível.
Talvez eu tenha herdado de meu pai um sentimento de indignação com a injustiça que me deixa permanetemente desconfortável. E, se O DIA me pede mais um artigo, minha indignação acaba por prevalecer, em detrimento de meu prazer.
Confesso que gostaria de ser diferente, me ocupar somente em fazer teatro e cinema, amar os meus, ganhar dinheiro honestamente e ser feliz.
Deixar pra lá mais uma reforma do Maracanã ao custo insano de mais de 500 milhões (um escândalo!), a Cidade da Música e seu abandono, a bandalheira dos táxis no Carnaval, as ações segregacionistas das cotas raciais e toda sorte de mazelas que incivilizam nosso cotidiano. Mas sinto que ou deixo de escrever ou estou condenado a falar dessas coisas.
O que ganho com isso, se não sou candidato a nada? Se só arrumo mais incompreensões e nem jornalista sou? É o que perguntam meus amigos. Tenho para mim uma sinalização para meus filhos sobre a cidadania, a liberdade e iniciativa individual e solidariedade.
Pouco importa se hoje são sinais que têm levado mais à pobreza do que à fortuna. Há um paradoxo no Homem: Ele pode mudar, mas está condenado a ser o que é.
(“O Dia” – 21/02/2010)
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