“Cuba resiste como único exemplo latino-americano de democracia social e econômica. Suspenso o bloqueio americano, abre-se o caminho ao aperfeiçoamento de sua democracia política”, afirmou Frei Betto certa vez, em artigo publicado em O Estado de São Paulo. É impressionante o malabarismo intelectual necessário para se justificar o regime adotado pela ilha caribenha. De certa forma, consegue-se responsabilizar os americanos até pelo autoritarismo de Fidel Castro. Com a possibilidade de sucessão “presidencial” em Cuba, contudo, a fragilidade da estrutura socialista fica patente. É momento propício, portanto, para lembrar como anda a liberdade no país. Parece até brincadeira, mas Cuba tem um vice-presidente. Chama-se Carlos Lage. Não sei exatamente que função exerce ou como chegou ao poder, mas sei que na semana passada estava na Bolívia comemorando a independência do país. Enquanto isso, quem passou a administrar a gerontocracia cubana foi o irmão mais novo de Fidel, Raúl Castro, de 75 anos. É difícil entender o processo sucessório na ilha. Seria por idade? A paranóia comum a todo o regime socialista também foi trazida à tona pela saída de cena do comandante. Jornalistas de todo o mundo tiveram sérias dificuldades de entrar na ilha nas últimas semanas. Alguns foram mandados de volta para casa, como a correspondente brasileira que foi deportada pelo simples fato de ser jornalista, sem necessidade de maiores explicações das autoridades locais. Na atual democracia cubana, é proibido que os cidadãos comprem computadores e acessem a internet sem autorização do Estado. Já os estrangeiros podem usar a internet em grandes hotéis, mas assim mesmo, a navegação poderá ser prejudicada pelos constantes firewalls. Como nem tudo é perfeito, o mercado negro na ilha é grande e senhas para acessar a rede mundial podem ser adquiridas por preços extorsivos. O sonho de deixar a o paraíso socialista manifesta-se de diversas formas entre a população. Por um lado, há as conhecidas balsas caseiras com as quais os cubanos constantemente tentam alcançar a costa dos EUA. Por outro, há uma maneira, mais segura, de se sonhar com um outro mundo possível. São as “jineteras”. Para uns não passam de prostitutas que se vendem por um punhado de dólares ou, mesmo, por produtos escassos, como tênis de marcas, rolos de papel higiênico e outras bugingangas. Na verdade, as “jineteras” são mulheres que acompanham turistas com o objetivo de se casar ou de pelo menos freqüentar lugares em Cuba nos quais normalmente não poderiam entrar. Hoje em dia, já existe a versão masculina das “jineteras”. A ironia histórica é surpreendente. A Cuba pré-revolução sempre foi definida como o bordel de capitalistas americanos. Atualmente, no entanto a prostituição fácil continua a ser um dos atrativos da ilha. Só que se tornou barata demais, quase um escambo. Afinal, a ilha tem uma população de 11 milhões de pessoas, PIB de 30 bilhões de dólares e salários miseráveis que variam entre 10 e vinte dólares por mês. Para onde vai grande parte do PIB ninguém sabe. Seria para a conta dos irmãos Castro? Por mais que os intelectuais brasileiros tentem, não dá para fechar os olhos. A democracia cubana só será implantada com a morte de Fidel e seus herdeiros. É covardia torcer para a recuperação de um ditador que se encontra há cinqüenta anos no poder, quando se sabe que a população cubana passa por privações políticas, sociais e econômicas. Em Cuba, até a liberdade é racionada.
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