O momento é bastante delicado. A economia brasileira apresenta sintomas evidentes de debilidade, inserida que está em um cenário de estagflação (estagnação acompanhada de inflação). Do ponto de vista ético, os tempos tampouco são bons: escândalos de corrupção são revelados diariamente, juízes são flagrados em situações inaceitáveis e desvios comportamentais parecem ser aceitos com naturalidade. O ambiente político, por seu turno, mostra-se nebuloso, com instituições desacreditadas, lideranças desgastadas e partidos em crise de identidade.
Diante dessa situação, propostas de reformas institucionais se multiplicam. As coisas não vão bem e, naturalmente, algo precisa ser feito, mudanças precisam ocorrer. Nesse cenário, uma pergunta em especial se apresenta: por onde começar o processo de mudança? A resposta, porém, não é simples. Não se trata de definir tão somente se devemos focar na reforma política ou tributária, na reforma trabalhista ou previdenciária.
[su_quote]O ponto de partida é uma prévia mudança na matriz cultural da nossa sociedade, nos princípios e valores que a norteiam[/su_quote]
Sabemos que as instituições brasileiras merecem reformas, no entanto, para que esses reparos institucionais sejam bem-sucedidos, penso que o ponto de partida é uma prévia mudança na matriz cultural da nossa sociedade, nos princípios e valores que a norteiam. Tocqueville observa em “A Democracia na América” que as instituições são criadas ou reformadas de acordo com a cultura da sociedade que as cria ou reforma. Em outras palavras, as instituições refletem as ideias, os valores, os costumes, as atitudes do povo que as estabelece.
Desta forma, considerando a importância da cultura no processo de aperfeiçoamento institucional, receio que, mantido o atual pensamento dominante – em grande parte paternalista, estatizante e descuidado com a educação, o trabalho produtivo e a liberdade -, as reformas, se feitas, dificilmente terão êxito. Para que os ajustes institucionais obtenham sucesso é essencial que eles estejam fundados nas ideias certas, em atitudes e valores adequados para o progresso econômico e social. O primeiro passo é uma reforma de ideias e ela deve acontecer na cabeça de cada brasileiro.
Fonte: Jornal do Comércio do Rio Grande do Sul, 12/3/2015
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