Jornal do Brasil, 06 de agosto de 2006 O regime castrista tem um lugar ao sol em qualquer livro de historia. Infelizmente, para América Latina, ele está na parte do livro que fala dos regimes totalitários. Porém, o regime castrista desfruta de um lugar singular nesse contexto. Ele é o regime totalitário que mais simpatias têm recolhido entre a opinião pública mundial – especialmente a latino-americana. Esse é um privilegio que nenhum de seus parceiros conseguiu desfrutar de forma duradoura, pelo menos no Ocidente. Muitos dos fascismos e dos comunismos que atormentaram o século XX nem sequer chegaram até o século XXI, e dos que conseguiram a simpatia inicial foi ficando pelo caminho. Tirando as diferenças geopolíticas a história da Coréia e de Cuba se assemelham. Ambos os regimes surgiram após a Segunda Guerra Mundial, no contexto da Guerra Fria, e sobreviveram ao amparo das potencias totalitárias da época. A atual “República” da Coréia do Norte nasceu em 1946 e foi liderada por Kim Il-sung até sua morte, em 1994, completando um total de 48 anos no poder, um verdadeiro recorde na historia das “repúblicas” de todos os tempos. A atual “República” de Cuba nasceu em 1959 e foi liderada por Fidel Castro até o presente, completando até agora um total de 47 anos no poder, o qual não deixa de ser um honroso segundo lugar na galeria das “repúblicas”. Esses recordes adquirem um feitio mais “familiar” ainda quando descobrimos que a sucessão em ambas as “republicas” se estabelece, como nas monarquias absolutistas, sobre bases co-sanguíneas, tendo passado de pai para filho em Coréia do Norte e, como vemos está sendo anunciado agora, de irmão mais velho para irmão mais novo em Cuba. Considerando que, frente aos fatos aberrantes da realidade da Coréia do Norte, a opinião pública ocidental não titubeia em colocar a seu regime no lixo da história, como explicar então toda essa simpatia com fatos parecidos na Cuba dos Castro? Por certo, o lado obscuro do totalitarismo cubano se esconde habilmente detrás de simpatias recolhidas ante a opinião publica pelo marketing experto de sua condição de “pequeno país soberano” frente ao “fomento da democracia” na Ilha, por parte dos Estados Unidos. Sem dúvida, o anti-norteamericanismo alimenta as simpatias de muitos com Cuba. Mas Cuba é hoje a melhor prova de que a opinião pública na América Latina permanece ainda confusa com relação aos valores essenciais da democracia e dos direitos humanos, em geral. É por tudo isto que se enganam aqueles que acreditam que haverá mudanças rápidas em Cuba – caso se confirme a saída de Fidel Castro – na direção de um regime democrático efetivo. Não se engana, porém, a doutora Hilda Molina, que leva anos querendo visitar seu filho e neto sem conseguir autorização, pelo simples “delito” de eles residirem fora de Cuba, na Argentina. Não se enganam, igualmente, os 75 dissidentes políticos que, em 2003, foram condenados a penas de até 26 anos de prisão, pelo simples “delito” de pensar diferente. Também não se enganam os familiares dos fuzilados depois de um juízo sumario de 8 dias, também em 2003, por conta do assalto a um barco em La Habana, pelo simples “delito” de querer fugir do país. Os tempos sombrios que se anunciam em Cuba não se referem apenas aos cubanos, mas à grande parte de América Latina, que dá espaço para os ditadores atrair simpatias e serem aclamados. A possível morte de Fidel elimina, por certo, um poderoso fator de coesão simbólica do regime, mas, pouco garante em termos de mudança ideológica e da ordem socio-estatal, ao menos no curto prazo. Quem manda, por enquanto, é o Partido Comunista e as Forças Armadas. Raul e Fidel são da mesma geração e nos regimes totalitários as mudanças acontecem quando aqueles que fizeram a revolução estão enterrados. Embora com sentidos diferentes, foi assim que aconteceu com a União Soviética e com a China Comunista. Por incrível que pareça, a “democracia” neste tipo de país, quando funciona, opera apenas sobre bases geracionais. Por Héctor Ricardo Leis & Samantha Buglione
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