“Um comunista na presidência!” “Um comunista assume o poder!” “O Brasil terá, pela primeira vez, um comunista no exercício do mais alto cargo da nação!”
Eis as frases encomiásticas, de euforia inoportuna e disparatada que ouvimos e lemos na imprensa falada e escrita nos dias que antecederam à transmissão de cargo do presidente da República ao presidente da Câmara Federal.
Pergunto-me: Será que os eleitores desse presidente meteórico, entre duas ausências do presidente reeleito (que chamam, à boca pequena, réu-eleito), terão consciência plena de terem elegido um comunista para representá-los? Será?
Por mais remota lhes seja e pareça a Rússia, terão tomado conhecimento da existência da antiga União soviética e da queda do muro de Berlim? Ou… estarei a sobrestimar-lhes o instinto político, que Aristóteles julgava ser uma espécie de segunda natureza em todo ser humano? Será?
Como o povo “é doutor no erro”, e isso, desde o século XVI… Tudo é possível. E visto que os donos da mídia do Nordeste jamais se empenharam em devassar o mundo vasto mundo aos olhos dos raimundos do sertão, que se danem os inocentes úteis…
Vivessem eles na Europa, fossem eles descendentes da velha França ou dos pieds noirs, de argelinos ou africanos, europeus de nascença ou cidadãos autorizados a votar (mas não obrigados a fazê-lo), se sabem ler, e bem, e escrever, corretamente, a língua de Pascal, língua que não tem, como o português, grafia fonética, mas etimológica, estariam informados, pela mídia, nas últimas eleições, de que o candidato ao Eliseu, de nome Jospin, opositor de Chirac, ainda no poder, teria enganado, astutamente, os ingênuos eleitores.
Oh! la-la! Que pecado teria cometido o honesto Jospin? Feio, muito feio! Pois teria dito, sem pudor, que deixara de ser trotskista, antes, muito antes da derrocada da antiga URSS e da queda do muro de Berlim. Mas a imprensa livre não se deixou bigodear. Nem permitiu que o povo, a quem cumpre manter informado, fosse vítima de ludíbrio da parte de quem deveria ocupar-se da res publica (da coisa pública). Que fez a mídia? Proclamou urbi et orbi que Jospin era bel et bien trotskista, e continuara a sê-lo após a data em que afirmara ter renunciado, definitivamente, ao ideal e às idéias de Trotsky.
Por isso, portanto, e também porque ousara apresentar-se, num palanque, ao lado de um grande líder sindicalista brasileiro, comunista de formação, praticante e defensor do comunisme au visage albanais, sua anunciada vitória nas eleições se converteu, da noite para o dia, em fragorosa derrota.
Quem tem hoje a audácia de dizer-se comunista? Até o pequenino PC do B fez toda a sua publicidade na imprensa, durante o período de propaganda eleitoral, nomeando-se partido socialista, apesar da sigla PC do B estampada na tela!!?
Natural! Quem, de cara lavada, se eleva hoje a herói, “dono de uma História”, digno do panteão nacional, confessando-se líder político, de confissão stalinista ou maoísta, devotado à luta pela integração do Brasil ao bloco soviético? Quem?? Mas era essa a fé que professavam, era esse o sentido da militância política dos jovens e homens maduros que se batiam, na América Latina (e no nosso país!, intra e extra-muros, nos corredores das universidades e nas guerrillas do Brasil Central, pela causa comunista (Ah! Se os conhecemos! E também os encontrei em Paris… ).
Quem tenha olhos de ler, leia Gide, leia Sartre, leia Vladimir Nabokov, Soljenitsine e os dissidentes russos, inteire-se sobre a existência dos Gulags, da KGB e da Lubianka, trate de consultar as obras de, entre outros, Mark Aldanov, Anna Akhmatova, Marina Tzvetaieva, Ossip Mandelstan, Nina Berberova … Ilustre-se, se possível, sobre o destino de Jospin, o trotskista desmascarado…
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