Imagine um acionista de uma empresa. Uma pessoa que compre ações de uma companhia qualquer. Esta pessoa passa, após adquirir uma parte da empresa, a receber dividendos, uma parte do lucro da mesma. Desconheço um acionista que não acompanhe o desempenho da empresa na qual investiu, que não acompanhe as decisões dos executivos da empresa para avaliar se fez ou não um bom investimento. Pense agora no Estado. Sim o Estado brasileiro; da qual eu, você e todos os outros cidadãos somos, de alguma forma, acionistas. Você vê esses acionistas acompanhando e sendo voz ativa nos rumos desta empresa da mesma forma que o são nas empresas que dão lucro? O poder de decisão e o que se exige de quem recebeu seu dinheiro (investimento ou tributos) é parecido? Me parece razoavelmente claro que a resposta será não. Temos por característica, aqui no Brasil, um certo desprezo pelas questões públicas, como se o Estado não fosse capaz de responder às nossas vontades ou não merecesse nossa atenção. Talvez isso seja uma das razões pelas quais deixamos que o Estado coma perto de 40% de tudo que produzimos e agir como mediador da sociedade. Ao estudar o desenvolvimento econômico da Itália, Robert Putnam em Comunidade e Democracia associou o maior crescimento nos estados do norte ao maior grau de associativismo dos cidadãos. Isto é, ao fato deles criarem laços, clubes, associações, ONGs, instrumentos para melhorar a sua vida que não sejam mediados pela mão do governo central. Segundo Putnam ao tratar da relação dos italianos com o Estado: “…os cidadãos das regiões menos cívicas costumam assumir o papel de suplicantes cínicos e alienados.”(p. 191). Neste livro Putnam avalia de uma forma geral a importância dos indivíduos se colocarem perante o Estado. Ao invés de pedir esmolas, programas governamentais ou dinheiro subsidiado, a participação dos cidadãos na vida comunitária foi crucial para que a o norte da Itália se desenvolvesse mais do que o sul ao longo do século XX, isso contando que no final do século XIX os indicadores sociais do norte e do sul eram bastante parecidos. Enquanto não assumirmos as rédeas da nossa empresa ao invés de deixarmos ela nos guiar, temo que continuaremos a reproduzir a análise de Putnam em terras brasileiras. Seremos acionistas guiados por uma grande empresa, e não controladores dela.
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