“Prezado Ricardo: passei por vários empregos até meus 39 anos, quando perdi meu último emprego, na função de gerente de marketing de uma multinacional de turismo. A partir daí, durante vários meses, fiz o processo de sempre: dezenas de currículos enviados, o esforço de contatar toda a minha rede de conhecidos etc. Tudo difícil. Muita rejeição. Afinal, sou velho para o mercado.”
Não é incomum eu receber e-mails com currículos anexados e pedidos de ajuda para encontrar emprego. Sem meios de ajudá-las, gostaria de dizer algo a cada uma dessas pessoas, que passam por um dos momentos mais difíceis de sua vida. A história do leitor cujo e-mail reproduzo aqui mostra como conquistar uma vaga de modo criativo:
“Há cerca de dois meses tomei uma decisão diferente. Resolvi pensar não como um desempregado, mas como o gerente de marketing que já fui. Percebi que estava me promovendo como uma mercadoria banal, não como o ser humano produtivo e experiente que sou. Meu currículo mostrava apenas o que muito garoto de 27 anos já tem até de sobra, como MBA e experiência internacional. Decidi então mudar a tática. Usei a internet para pesquisar empresas de que gostava ou aquelas que tinham produtos relacionados a minha experiência. Selecionei inicialmente 20 empresas. Ao final, me concentrei em cinco, uma em cada segmento. Em vez de enviar meu currículo, mandei um e-mail com um estudo de mercado que elaborei para cada empresa. Minha análise incluía novas oportunidades de negócio, brechas que eu antevia em relação aos concorrentes, novos produtos que poderiam ser lançados ou reconfigurados. Junto, seguia minha proposta de trabalho”.
O que aconteceu com o leitor? As cinco empresas contatadas responderam com propostas de trabalho em apenas uma semana. Ele então escolheu uma na qual passou a receber um salário mensal fixo. Mas também começou a prestar serviço para mais duas delas, onde ganha por produção. Com a quarta empresa, mantém contato. Só descartou mesmo a quinta companhia. A empresa que lhe paga salário é francesa, trabalha com software. Está interessada na capacidade do leitor em entender o mercado brasileiro. Nada a ver com turismo, última área em que ele havia trabalhado.
O leitor usou um novo método para encontrar trabalho: deixou de ser candidato. As empresas é que passaram a ser candidatas a contratá-lo. Em vez de mandar seu currículo e esperar passivamente que o Departamento de Recursos Humanos encontrasse uma vaga para encaixá-lo, ele propôs cargos que ainda não existiam.
O caso ilustra como muitas pessoas começam a se emancipar da síndrome do zumbi-procurador-de-emprego, conseqüência do sistema educacional, que estacionou no século XX e ainda prepara as pessoas para ser meros empregados. Pior que isso. Nosso sistema escolar, incluindo o ensino superior, suprime a capacidade de ser criativo. É comum que, ao ficar sem emprego, as pessoas percam sua auto-estima.
Não saia por aí panfletando seu currículo. Reflita e pense no que você pode fazer de criativo por seus potenciais contratadores. As melhores empresas e organizações do século XXI não querem mais empregados. Querem pessoas criativas e talentosas, com projetos de parcerias.
(Publicado na revista Época de 30 de julho de 2007)
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