Um cenário de adversidades normalmente traz à tona conceitos elementares para o desenvolvimento econômico de uma sociedade. E que nunca deveriam ser esquecidos, mesmo em períodos de prosperidade. A busca do bem comum, por meio de uma coalizão de lideranças de distintos segmentos da população é um bom exemplo disso. Para alguns, atingir esse grau de entendimento entre partes com interesses muitas vezes tão distintos pode ser idealismo. Mas não é.
Um exemplo disso foi o recente apelo de grandes empresas norte-americanas, sindicatos de trabalhadores, organizações ambientalistas, grupos de especialistas em segurança nacional, entre outros, publicado em uma página inteira do jornal Wall Street Journal. Nesse grande anúncio, quase 100 lideranças se uniram para conclamar a união de democratas e republicanos em relação à legislação nacional de energia e clima, com o objetivo final de preservar e criar empregos no país.
O que nos falta, caro leitor, para colocarmos em prática a nossa capacidade de mobilização? No Rio Grande do Sul, recentemente, tivemos uma demonstração que a coalizão política em torno de um objetivo comum pode dar bons resultados. Esse é o caso da Rodovia do Progresso, a RS-010, a primeira estrada a ser construída por meio de uma parceria público-privada (PPP). Quem ganha com isso é a população, já que essa iniciativa deverá equacionar um dos principais gargalos de escoamento de tráfego na grande Porto Alegre.
Mas não podemos deixar que a Rodovia do Progresso seja apenas um raro exemplo da nossa atual capacidade de coalizão. Os debates sobre equilíbrio das contas do Estado e as necessidades de investimento público também não devem se restringir ao embate político. Eles devem ser levados para a esfera técnica, a fim de atender às reais necessidades de nossa comunidade e evitar a supremacia de interesses imediatistas e eleitoreiros.
Países e Estados bem-sucedidos são aqueles que alcançaram o déficit zero nas finanças públicas, ou seja, não gastam mais do que arrecadam. Em outros casos, chegam a apresentar superávits nas contas públicas, o que permite realizar mais investimentos públicos e reduzir a carga tributária. A prosperidade de uma nação, portanto, está diretamente ligada à sua capacidade de investir e de poupar. Na China, apesar das peculiaridades políticas locais, o nível de poupança atinge 40% do PIB, o que permite a realização de expressivos investimentos, se revertendo em mais produtividade e competitividade no cenário internacional. Vale ressaltar que a carga tributária chinesa chega a ser cerca de 40% menor do que a brasileira.
Antes das próximas eleições, candidatos e seus partidos deveriam fazer uma coalizão em torno de dois, três temas vitais para o Rio Grande do Sul. Isso também deveria ser feito em âmbito nacional. Assim que tomassem posse, esses mesmos políticos deveriam aprovar medidas concretas em prol dos assuntos consensados, que poderiam envolver a necessidade de melhoria da qualidade do ensino público, o déficit da previdência pública e a importância do superávit nas contas públicas para a realização de investimentos, entre tantos outros desafios.
Ao votar, nós, eleitores, podemos contribuir para a prosperidade e o desenvolvimento do Rio Grande e do Brasil, ao escolher e exigir dos candidatos a construção de uma agenda de crescimento, acima de questões partidárias e eleitorais. O momento de promover uma coalizão real é agora.
(“Zero Hora” – 21/02/2010)
Não escolhemos ninguém, ilustre Dr. Gerdau. Quem escolhe são as cúpulas partidárias, e geralmente combinadas. Infelizmente.