O maior perigo que a oposição pode correr em 2010 é o de competir em uma eleição plebiscitária. E claro, por simetria, isso é tudo o que o governo Lula quer. Nesse contexto, o foco do candidato oposicionista não deve ser o do “anti-Lula”, como querem alguns setores do PSDB, mas sim o do “pós-Lula”.
Está bastante claro que o mote de campanha da ministra Dilma – ou de quem for o candidato petista – será o continuísmo. Os marqueteiros do governo se concentrarão na tese de que “nunca antes na história desse país” tivemos tão bons ventos na economia, uma redução significativa da miséria e avanços na infra-estrutura, por intermédio do PAC (o Plano de Aceleração do Crescimento). Isso somado ao fato de, pela primeira vez desde a crise da dívida na década de 80, o Brasil poder praticar políticas econômicas anticíclicas – que, em uma primeira análise, se mostraram bastante eficientes para a retomada do crescimento no segundo semestre de 2009.
A sociedade, como bem expressam os modelos de public choice, é míope: se essa tese não for devidamente rechaçada, os louros cairão sobre o colo do governo petista e a vitória do continuísmo será decretada. Nada impede, porém, que a oposição invalide a ideia de que o Brasil começou em 1 de janeiro de 2003.
Nesse sentido, a oposição deve lançar mão do “pós-Lula”, em um sentido bastante amplo e estrutural. Tudo o que o governo petista não fez nos últimos sete anos deve ser tido como prioridade absoluta daqui para frente. E a lista é imensa. A começar por uma nova onda de reformas institucionais, que moldem o país que queremos construir.
Há de se entender, entretanto, que ser posterior a alguém nada tem a ver com ruptura – o que deve ficar bastante claro para o eleitor médio. Não se deve romper com o PAC, nem com o Bolsa Família, por exemplo. Os programas que possuem um significado importante para o país – melhoria da infra-estrutura e renda mínima – devem ser mantidos, melhorados e expandidos. O foco do “pós” deve ser justamente na medida das coisas, isto é, na eficiência do gasto público, no uso de calculadoras e planilhas.
Tal enfoque está mais do que atrasado no país. Quando o Plano Real foi germinado, havia nele uma esperança de “ajuste fiscal”, mas pouca coisa foi feita. Tirada a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), todo o “ajuste” que se fala passou bem distante do corte de gastos correntes e se fez a base de aumento das receitas (leia-se: aumento de impostos). Desse modo, é preponderante que o “pós-lulismo” seja calcado em eficiência da máquina pública, em rejeição completa ao apadrinhamento político, em extinção de cargos comissionados, em azeitamento do modus-operandi das políticas públicas. E essa bandeira, vital para o desenvolvimento institucional do país, o PT não pode defender.
O problema nisso tudo – e o risco – é que tal discurso não sensibiliza o eleitor médio brasileiro. Para ele tanto faz que a carga tributária esteja crescendo, que os gastos correntes estejam aumentando ou que o sistema judiciário continue sendo uma pedra no sapato do nosso desenvolvimento. Para este tipo de cidadão o importante é que os empregos – mesmo que sejam de baixa qualificação – estejam sendo mantidos e/ou ampliados. Isso ocorrendo, todo o resto – corrupção, incluída – é tolerável.
Dada essa triste realidade, será necessário demonstrar que tudo o que possibilitou as atuais virtudes da economia brasileira não teve início em 1 de janeiro de 2003. Isso – como já havia tocado em artigo anterior, disponível em http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2008/10/29/olhos_em_2010-586166699.asp – deveria ter sido discutido desde o recado das urnas em 2006. Mas nada impede que seja feito no calor das eleições.
É claro que, uma vez mais saliento, não se deve querer entrar no jogo das comparações – coisa que o PT fará. Deve se ter como foco a demonstração pura e simples de que tudo o que ocorre hoje com a economia brasileira só foi possível graças aos ajustes estruturais da década de 90. Montada essa base deve-se pensar o futuro – construir justamente o período “pós-Lula” – com a viabilização daquelas mudanças estruturais que ficaram estacionadas durante a era petista. Como se nota, portanto, focar o “pós-lulismo” é retomar os avanços que o Brasil vem tendo nas últimas duas décadas. Nada mais do que isso.
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