O BNDES informou nesta terça-feira o seu resultado do terceiro trimestre e um aumento do lucro nos nove primeiros meses do ano, que chegou a R$ 7,399 bilhões, atrás apenas dos R$ 7,866 bilhões obtidos nos primeiros três trimestres de 2011. O banco destacou que houve um forte aumento do resultado de intermediação financeira, que subiu 26,6%. Apesar disso, o banco não informou os seus desembolsos, pois os últimos dados são de junho. Isso gera críticas de especialistas, que temem pela falta de transparência do BNDES. Segundo especialistas em contas públicas, os desembolsos são importantes até mesmo para analisar o aumento do lucro do banco:
— É claro que o banco já tem estes dados e que os desembolsos deveriam ser divulgados conjuntamente, pois o lucro pode ter subido, mas a margem do banco pode ter caído, ou seja, sem os desembolsos fica difícil fazer uma análise completa da situação do banco. Acredito que estes dados serão divulgados nos próximos dias e que o banco se dá um pouco mais de prazo por só ter um acionista, o governo, mas seria melhor, pela transparência, que tudo fosse divulgado ao mesmo tempo — afirmou Luis Miguel Santacreu, analista sênior de instituições financeiras da Austin Rating.
Ele lembra, ainda, que os dados dos desembolsos do banco são relevantes para entender o comportamento da economia, pois os detalhes setores que estão acelerando ou desacelerando, dado o peso que o banco tem na economia. Ele lembra que, como tem créditos de longo prazo, a análise dos desembolsos é mais importante que a avaliação da carteira de crédito, ao contrário do que ocorre nos bancos privados normais.
Carlos Coradi, presidente da EFC Consultores, afirma que o mundo inteiro caminha para uma maior transparência de dados e que bancos públicos deveriam dar o exemplo:
— Certamente quando você vê uma demonstração de banco, o que interessa é a transparência. A análise de um balanço de banco é muito complexa, então quantos mais dados, melhor — disse.
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, afirma que não acredita que o banco queira esconder dados e diz que a falta das informações de desembolsos deve ser, apenas, uma dificuldade técnica. Ele disse torcer para que o banco volte a informar os desembolsos mensalmente, como fazia no passado.
— É tanta informação que o governo tem deixado de publicar na hora certa que não surpreende. Essa constante do governo apenas reforça a ideia de que o governo está perdido e não sabe o que fazer — disse.
Margarida Gutierrez, professora da Coppead, afirma que não se pode dizer que há problemas no BNDES como contabilidade criativa que afetou outros órgãos do governo, mas reclama da falta de dados do desembolso junto com os resultados do trimestre:
— A sociedade tem o direito de saber como estão os desembolsos do banco, que continua a receber muito títulos do Tesouro Nacional. O BNDES, além de público, não é autossuficiente, recebe aportes e também recursos de fundos como o FAT. O ideal é que os dados fossem divulgados juntos — disse.
Questionado sobre o assunto, o banco informou que os números deverão ser divulgados em breve.
Sobre o lucro, o banco informou que um dos destaques foi a alta performance das participações acionárias, que registrou um crescimento de 130,6% em um ano, passando de R$ 1,849 bilhão nos nove primeiros meses de 2013 para R$ 4,264 bilhões em igual período de 2014.
— O setor acionário voltou a ser muito relevante no resultado do banco depois de ter perdido importância em 2012 e 2013 — afirmou o chefe do Departamento de Contabilidade do BNDES,Carlos Frederico Rangel.
Rangel disse ainda que os resultado do BNDES são consistentes e pouco influenciados por fatores externos:
— A reversão de provisionamentos, que em outros anos chegou a ser relevante, este ano foi quase zero. E a recuperação de ativos chegou perto de R$ 200 milhões. Vemos uma melhora tanto das participações acionárias do banco como do resultado de intermediações financeiras — disse Rangel, lembrando que a rentabilidade do BNDES sobre seu Patrimônio Líquido passou de 10,15% no resultado do primeiro trimestre do ano para 11,82% no acumulado dos nove meses do ano.
O BNDES registrou lucro líquido de R$ 1,928 bilhão no terceiro trimestre. O valor é 18,7% superior ao apurado em igual período do ano passado, de R$ 1,624 bilhão. No acumulado dos primeiros nove meses do ano, o banco estatal atingiu lucro líquido de R$ 7,399 bilhões, resultado é 51,4% superior ao obtido no período de janeiro a setembro de 2013, de R$ 4,886 bilhões. De acordo com o banco, a inadimplência permaneceu em 0,07% da carteira total
A alta do resultado com participações societárias, em sua maioria oriunda do BNDESPar, foi decorrente basicamente de três fatores: aumento de 23,6% da receita com dividendos e juros sobre capital próprio, para R$ 2,716 bilhões nos primeiro nove meses de 2014; a melhora do resultado com derivativos de renda variável, que passou um resultado negativo de R$ 61 milhões de janeiro a setembro de 2013 para um resultado positivo de R$ 896 milhões em igual período de 2014; e redução de R$ 652 milhões na despesa com provisão para perdas em investimentos.
A BNDESPAR, sociedade de participações acionárias do banco, apurou lucro de R$ 468 milhões no terceiro trimestre desse ano, 24,1% acima do apurado em igual trimestre no ano passado. Este crescimento é explicado pelo aumento no resultado de participações societárias em R$ 507 milhõ es (938,9%), sendo atenuado pelo aumento das outras despesas operacionais em R$ 207 milhões (690%), no mesmo período de comparação, detalhou o BNDES.
Fonte: O Globo.
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