Não mais a fonte de admiração que já foi, Chinzila – a conexão entre China e Brasil – se tornou a ameaça número um para a economia global”.
É assim que começa um artigo publicado ontem no jornal britânico Financial Times por Gene Frieda, estrategista global da Moore Europe Capital Management.
Ele diz que a desaceleração chinesa e seu efeito sobre os preços de commodities já vem pelo menos desde 2012 e não são nada triviais, considerando o peso chinês na economia global.
O problema é que a resposta confusa diante da queda da bolsa chinesa e a decisão de depreciar o yuan mostraram que os oficiais chineses não tem tanta margem para reagir, e que fissuras correm o risco de se tornaram riscos sistêmicos.
A China anunciou ontem um crescimento de 6,9% no 3º trimestre, o pior desde a crise financeira de 2009. A meta para o ano é de 7%, que seria o mais baixo resultado em 25 anos.
As próprias estatísticas são frequentemente questionadas, e ninguém conhece direito o perfil da dívida chinesa – que explodiu de 120% para 282% do PIB entre 2000 e 2014, segundo números de BlackRock com a Mckinsey.
O risco é que para evitar fuga de recursos, a China se veja tentada a inflar o próprio mercado de títulos e a desvalorizar ainda mais sua moeda, o que só exportaria deflação para o resto do mundo.
Conexão Brasil
“O Brasil, maior beneficiário da ascensão chinesa, foi o que mais sofreu com seu enfraquecimento subsequente. Com um impasse político adiando qualquer redução significativa do déficit, o Brasil vê sua dinâmica de dívida em uma trajetória explosiva”, diz o texto.
A China é a maior parceira comercial do Brasil e a fatia das nossas exportações que vão para lá cresceu de 6,8% em 2007 para 19% em 2013.
Mas o risco não é pela via comercial e sim das contas externas. O Brasil também teve seu boom de crédito doméstico na década passada e a opção de um ajuste gradual foi se perdendo diante do tamanho das dificuldades políticas.
Gene diz que para a China, a melhor opção é estímulo fiscal para o consumo sem hesitação nas reformas estruturais.
Para nós, é deixar acontecer um ajuste duro de aperto monetário e moeda desvalorizada que pelo menos limite o déficit em conta corrente e o risco externo.
A nosso favor, temos um grande volume de reservas internacionais e um sistema financeiro com liquidez e pouco exposto.
Fonte: Exame.
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