Segundo o Centro Brasileiro de Infra Estrutura, diferença no preço da gasolina é de 14,5%; no diesel, de 15,3%
Com a desvalorização de quase 10% do real frente ao dólar nos primeiros seis meses deste ano, a Petrobras teve uma perda estimada em R$ 2,5 bilhões com a defasagem dos preços da gasolina e do diesel vendidos no Brasil. Os cálculos foram feitos pelo Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE). Hoje, após o fechamento do mercado, a estatal divulga seus resultados referentes ao segundo trimestre.
Entre os custos da importação dos derivados feitos pela Petrobras e as receitas obtidas com a venda no mercado interno, a maior perda vem do diesel, de R$ 1,9 bilhão. Em seguida aparece a gasolina, com uma diferença de R$ 639,9 milhões. De acordo com o CBIE, a defasagem média dos preços nacionais da gasolina em relação aos preços internacionais chegou a 14,5%. No mesmo período, a defasagem média do diesel foi de 15,3%.
A Petrobras terá uma grande perda na área de refino. A defasagem dos preços está muito alta. No nível atual, é quase insustentável. Mas não acredito em novos reajustes devido à questão política. O governo dificilmente vai elevar os preços, pois está preocupado com as eleições do ano que vem, apesar da acomodação atual das pressões inflacionárias disse Ricardo Correa, diretor da corretora Ativa.
Segundo Correa, a gasolina teve apenas um reajuste de 6,6% em janeiro e o diesel teve duas altas, uma em janeiro (de 5,4%) e outra em março (de 5%). Porém, para Luiz Francisco Caetano, analista da corretora Planner, a defasagem de preços é ainda maior. Segundo ele, que usou dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e da Agência Internacional de Energia (EIA, na sigla em inglês), a diferença no preço da gasolina é de 18,4%; e do diesel, de 16,9%.
Na opinião de Caetano, a situação da Petrobras está cada vez pior, pois nos primeiros cinco meses deste ano o Brasil se tornou importador líquido de petróleo, ao custo de US$ 1,9 bilhão. Além disso, o país, que era importador líquido de derivados, viu a conta piorar ainda mais:
Em 2012, as importações líquidas (de derivados) custaram R$7,3 bilhões. Entre janeiro e maio deste ano, essas compras do exterior já atingiram US$5,7 bilhões, valor 60% maior que no mesmo período do ano passado. O pior é que isso ocorre em um momento delicado para a empresa, que está com endividamento elevado e em meio a um pesado programa de investimentos destacou Caetano, lembrando que já no ano passado as exportações de petróleo haviam caído 13%.
Assim, a expectativa inicial da Petrobras era de prejuízo neste segundo trimestre. Mas, para evitar esse cenário, a estatal alterou sua prática de contabilidade, de forma a neutralizar a desvalorização do real em sua dívida líquida. A Petrobras vai, segundo a Planner, diluir as perdas com a desvalorização cambial neste segundo trimestre pelos próximos sete anos. Segundo corretoras ouvidas pelo GLOBO, a estatal deve ter um ganho entre R$ 3 bilhões e R$ 5 bilhões, na média, neste segundo trimestre.
A Petrobras tem endividamento de cerca de R$ 100 bilhões denominados em dólar. Assim, com a desvalorização do real em 10%, haveria um impacto de R$ 10 bilhões no lucro. Mas, com as novas normas, ela vai conseguir neutralizar grande parte disso com base em suas receitas futuras em dólar explicou Correa.
Os analistas, no entanto, destacam que a nova norma pode ser prejudicial para a empresa. Para ele, com a estatal lucrando mais, o pagamento de dividendos também será elevado, em um momento em que a empresa está com uma situação financeira delicada. No primeiro trimestre, por exemplo, a relação entre a dívida líquida e a geração de caixa operacional ficou em 2,32 vezes.
Fonte: O Globo
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