Mais de 23% da água de rios, córregos e lagos têm qualidade considerada péssima ou ruim em seis Estados brasileiros e no Distrito Federal. A conclusão é de um levantamento realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica em 111 corpos de água, entre março de 2014 e fevereiro de 2015. De acordo com os dados, houve melhora na qualidade da água da cidade de São Paulo em relação ao ano passado. A parcela dos pontos de coleta na capital que apresentou qualidade ruim ou péssima caiu de 74,9%, em 2014, para 44,3% em 2015.
De acordo com a coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, a falta de chuvas na capital paulista é a explicação para a melhora de qualidade da água dos rios e córregos urbanos. “A gestão de resíduos sólidos em São Paulo não é boa, por isso, as chuvas torrenciais lavam o solo com lixo, fuligem de diesel e agrotóxicos, trazendo impacto significativo para os mananciais”, disse Malu. Segundo ela, em condições normais, as chuvas contribuem para melhorar a qualidade da água, já que aumentam o volume de água dos rios, dispersando os poluentes. Mas esse fenômeno não ocorre mais nas grandes cidades brasileiras. “Acabamos invertendo o processo, porque os rios acabam recebendo água contaminada”, explicou.
O levantamento, que é o maior já feito pela SOS Mata Atlântica, considerou 301 pontos de coleta distribuídos em 45 municípios – incluindo em 25 rios da cidade de São Paulo e 12 da cidade do Rio de Janeiro. A análise também incluiu municípios do Distrito Federal, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em 186 pontos consolidados, as análises permitem comparação com os indicadores de qualidade da água do ano passado. Desses pontos de coleta, em todo o Brasil, 1,7% apresentaram qualidade da água considerada péssima, 21,6% foram avaliados como ruins e 61,8% estão em situação regular. Nenhum dos pontos analisados foi avaliado como ótimo.
“O objetivo principal do levantamento era saber de que forma os eventos climáticos extremos que temos experimentado impactaram na qualidade dos nossos reservatórios e rios, para que possamos projetar um aprimoramento da qualidade de suas águas”, disse Malu. “Esperamos que esses dados façam com que as autoridades olhem para o impacto da má gestão do saneamento e do solo das metrópoles na qualidade da água dos nossos rios”, declarou.
No Estado de São Paulo, dos 117 pontos monitorados, apenas três registraram boa qualidade de água. Outros 74 pontos foram avaliados com qualidade regular e 21 estão em situação ruim e 2 péssima. Dos 175 pontos analisados Estado do Rio de Janeiro, 186 estão em situação regular, cinco têm índice péssimo, 65 registraram qualidade ruim e 45 pontos tiveram indicadores de boa qualidade de água – todos estes na Lagoa de Araruama.
Em relação a 2014, no entanto, a qualidade da água dos rios paulistas melhorou. Entre os 53 pontos de coleta analisados nos dois estudos, a parcela de amostras com qualidade regular subiu de 30,2% para 50,9%. O Tietê, por exemplo, passou de qualidade ruim para regular em ponto de coleta na altura de Suzano. De acordo com a SOS Mata Atlântica, os rios monitorados em São Paulo e que registraram indicadores na faixa regular poderão ter o seu enquadramento, com base na legislação que trata da qualidade da água, fixado em rios de classe 3 e 2, cujas águas podem ser utilizadas para usos múltiplos. “É isso que a sociedade espera conseguir conquistar para rios urbanos”, disse Malu.
Ao contrário de São Paulo, na capital fluminense houve piora na qualidade da água analisada em 15 pontos de coleta. Os pontos com qualidade regular caíram de 60%, em 2014, para 33,3% em 2015. Foi registrada qualidade considerada ruim em mais de 66% dos pontos medidos em 2015, contra 40% em 2014. Nenhum dos pontos analisados apresentou qualidade boa ou ótima. “No Rio de Janeiro os índices de tratamento da água são muito baixos, em comparação aos de São Paulo. Além disso, a cidade teve temperatura extremamente elevadas no início do ano, favorecendo a proliferação de algas e a queda rápida do índice de oxigênio nas águas, aumentando o mau odor dos rios”, disse.
Em Minas Gerais, o rio Jequitinhonha, na altura do município de Almenara, apresentou situação regular. Já o rio Mutum, na cidade de Mutum, e o córrego São José, em Bicas, estão em situação ruim. No Rio Grande do Sul, a Lagoa do Peixe mostrou boa qualidade boa, o Rio Tramandaí apresentou situação regular e o Lago Guaíba, na altura da Barra do Ribeiro, apresentou situação ruim. Em Brasília, a análise de dois pontos do Córrego do Urubu apresentou qualidade regular. Já em Santa Catarina, o Rio Mãe Luzia, na cidade de Forquilhinha, está em situação regular.
Fonte: O Estado de S.Paulo.
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