No último dia 28 de fevereiro, de acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o nível dos reservatórios das Regiões Sudeste/Centro-Oeste, responsáveis por 70% da capacidade instalada do Sistema Interligado Nacional (SIN), estava em 34,6%, quase o mesmo patamar da média de março de 2001, ano do racionamento de energia elétrica no Brasil, que foi de 34,5%. No dia 10 de fevereiro deste ano, o nível dos reservatórios estava em 37,1%.
As perspectivas para março não são otimistas. As chuvas continuam fracas e insuficientes para elevar os níveis dos reservatórios das principais usinas hidrelétricas do país. Segundo o ONS, os reservatórios das usinas das Regiões Sudeste/Centro-Oeste devem receber, durante o mês de março, uma quantidade de água equivalente a 67% da média histórica. Embora baixo, o percentual representa uma melhora em relação ao verificado nos meses de janeiro e fevereiro, quando as chuvas (a chamada afluência) ficaram em 54% e 39%, respectivamente, da média histórica. O índice de fevereiro é o segundo pior para o mês em 84 anos, e o de janeiro foi o terceiro pior.
Das usinas que integram o sistema Sudeste/Centro-Oeste, a de Itumbiara, no Rio Paranaíba, está com apenas 16,2% de água armazenada em seu reservatório. Já a usina de Furnas, no Rio Grande, está com 32,9% de armazenamento.
O presidente do Instituto Acende Brasil, de pesquisas do setor elétrico, Cláudio Sales, disse que a situação é muito preocupante porque, além de janeiro e fevereiro terem sido os piores meses de chuvas dos últimos anos, nos primeiros dias de março as “águas” continuam fracas. Portanto, só resta abril para se esperar uma melhora no nível dos reservatórios.
Na Região Sul, a situação também é crítica, com o nível dos reservatórios em 38,6%, menos da metade dos 91,6% registrados em março de 2001. Naquele ano, sobrava energia no Sul, que, no entanto, não podia ser enviada para o Sudeste por falta de linha de transmissão. Assim como no Sudeste/Centro-Oeste, o nível atual no Sul está abaixo dos 37,4% em 10 de fevereiro último.
Já na Região Nordeste, o nível dos reservatórios das usinas tem se mantido praticamente igual nas últimas semanas: 42,1%, ante 42,7% em 10 de fevereiro, e superior em relação aos 37,1% da média de março de 2001.
Na Região Norte, devido às fortes chuvas que vêm caindo nas últimas semanas, o nível subiu para 81,7%, contra 69,7% do início de fevereiro, e também acima dos 74,3% de março de 2001.
Falta de transparência
Segundo Sales, do Instituto Acende Brasil, o governo vem dizendo duas inverdades: que as tarifas de energia ficaram mais baratas graças à MP 579 (que renovou os contratos de concessão de geração de energia em 2013) e que não existe risco de racionamento.
— Nenhuma das duas afirmações é correta. Não estão dando (o governo federal) transparência para a realidade, e isso é importante para a sociedade se proteger e gastar menos energia. Por isso, é preciso divulgar com clareza a realidade que temos — destacou Sales.
Segundo ele, já se fala no mercado que alguns consumidores eletrointensivos estariam reduzindo seu consumo para liberar energia para o mercado, aproveitando os preços altos da energia no mercado livre, de R$ 822 o Megawatthora.
— A hipótese de alguns consumidores eletrointensivos estarem poupando energia é um movimento voluntário muito bem-vindo — afirmou.
Fonte: O Globo
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