Semana Mundial do Investidor pretende difundir a cultura do investimento
A maioria dos brasileiros continua apegada à poupança. Pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostra que a caderneta é a aplicação preferida por 61% dos poupadores habituais. Essa escolha, avaliam especialistas, deve-se, em grande parte, ao desejo de evitar riscos. Mas há também um certo desconhecimento de outras opções, com rendimento mais atraente e baixo risco. Um dos objetivos da Semana Mundial do Investidor, que vai até o próximo dia 8, é difundir a cultura do investimento por meio de palestras e cursos, tanto presenciais como on-line. Uma das palestras tem, inclusive, o tema “Como diversificar investimentos e ir além da tradicional poupança”. No Brasil, o evento é coordenado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com apoio de B3 e Anbima, entre outras entidades.
Ainda que especialistas consultados pelo GLOBO avaliem que a caderneta continua sendo uma boa aplicação para o pequeno investidor, eles advertem que já existem no mercado produtos seguros que podem oferecer um ganho um pouco mais atraente, especialmente na atual conjuntura de juros mais baixos.
— Com a taxa básica de juros a 8,25% atualmente, passa a valer uma regra diferente de cálculo no ganho da poupança. Ela rende 70% da Selic, mais a taxa referencial. Ou seja, deixando de oferecer os 100% da Selic, ela fica menos atraente daqui para a frente em relação a fundos de renda fixa, por exemplo — diz Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor de estudos econômicos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).
Uma alternativa à poupança para investidores que não estão dispostos a correr riscos no mercado de ações são os fundos de renda fixa que acompanham a Selic. No ano, até setembro, eles ofereceram ganho de 8,04%, já superior à poupança. Mas Oliveira alerta que o investidor deve atentar para as taxas de administração cobradas por estas aplicações.
— Com uma taxa superior a 1%, esses fundos tendem a oferecer um ganho inferior ao da poupança. Para um investidor pequeno, que tem até R$ 5 mil para aplicar, talvez seja melhor ficar na poupança. Para este cliente, os bancos cobram taxas de administração em torno de 2% a 3% ao ano. E a poupança ainda tem a vantagem de ser isenta do Imposto de Renda, enquanto nos fundos há cobrança de alíquotas que variam de 15% a 22%, dependendo do prazo aplicado — explica Miguel Ribeiro.
Para Mauro Calil, especialista em investimentos do banco Ourinvest e fundador da Academia do Dinheiro, a poupança atrai o brasileiro porque é uma aplicação fácil, sem burocracia. Pode-se investir e sacar o dinheiro da conta poupança de forma muito simples. E com os aplicativos dos bancos, essa tarefa ficou ainda mais facilitada. Calil também observa que os fundos de renda fixa são uma alternativa interessante para quem tem um perfil mais conservador. Ele lembra, entretanto, que alguns produtos podem ter em suas carteiras o CDB (Certificado de Depósito Bancário, título de crédito emitido pelos bancos) e títulos públicos prefixados, que podem ter oscilações mais bruscas.
— Por isso, é preciso olhar o histórico do fundo escolhido e observar se ele tem consistência no rendimento. Se ele oferecer um retorno que corresponda a 90% ou 95% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), referência de juros praticados entre os bancos, todo mês, então vale a pena aplicar —- diz Calil, lembrando que neste caso a taxa de administração deve variar entre 0,5% e 0,7% ao ano para o fundo ser atraente.
Os títulos do governo oferecidos pelo Tesouro Direto são outra opção com baixo risco para investidores que querem um retorno mais generoso do que a poupança, sem colocar o patrimônio em risco. O problema, lembra Calil, é que existem muitos papéis diferentes no mercado, o que pode confundir o investidor acostumado com a simplicidade da caderneta. No mês passado, o Tesouro Direto lançou um simulador de investimentos, em que o interessado pode saber quanto terá de retorno aplicando uma quantia mensal. Isso facilita a vida do investidor iniciante nessa aplicação, dizem os analistas.
— A diferença que o Tesouro Direto tem para os fundos de renda fixa é o gestor, com conhecimento específico do mercado financeiro, que administra a carteira. Por isso, ele cobra uma taxa de administração — observa Calil.
Para o investidor que aceita correr um pouco mais de risco e não precisa do dinheiro a curto prazo – ou seja, daqui a 30 dias – há opções mais arrojadas que a poupança, lembram os especialistas. Entre eles, os fundos de ações e multimercados. Os fundos de ações que seguem o Ibovespa estão oferecendo um rendimento no ano próximo de 23,35%, o que salta aos olhos quando comparado à poupança.
— Mas é preciso saber que a Bolsa oferece ganhos assim expressivos quando o investidor entra na baixa. E, neste momento, a Bolsa já subiu bastante alerta Calil.
Com Selic a 8,25%, os fundos de renda fixa também tendem a render menos, embora ofereçam ganho superior ao da poupança, lembra Pedro Coelho Afonso, chefe de operações da Gradual. Por isso, diz ele, a tendência natural será os brasileiros se arriscarem um pouco mais, buscando aplicações com retornos mais atraentes.
— O brasileiro se acostumou a ter um retorno atraente sem correr riscos, com os juros altos. Agora, o cenário está mudando e será preciso procurar ativos um pouco mais arriscados. Uma opção são os fundos de ações com viés longo. Eles possuem em sua carteira empresas mais sólidas, que pagam bons dividendos. São interessantes para quem pode manter o dinheiro aplicado no longo prazo — diz Coelho.
Uma alternativa são os CDBs dos chamados bancos médios, cuja rentabilidade é superior aos papéis emitidos por instituições grandes. Embora sejam papéis com mais risco, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) protege os investidores em caso de problemas com o banco. O FGC cobre aplicações até R$ 250 mil em caso de quebra do banco. A rentabilidade desses papéis, dependendo do prazo, pode chegar a 115% do CDI.
— Outra opção são os fundos multimercados, uma espécie de renda fixa mais sofisticada. Esses fundos fazem operações com Bolsa, juros e câmbio, mas com risco controlado. Hoje, já é possível entrar nesses produtos com aplicações a partir de R$ 1 mil. E mesmo com taxas de administração um pouco mais elevadas (de 2% a 3%), o ganho turbinado compensa esse pagamento — analisa Coelho.
Mauro Calil cita ainda os fundos imobiliários, em que os recursos são lastreados no mercado imobiliário, seja no imóvel propriamente dito, como um shopping center ou galpão, ou mesmo em recebíveis imobiliários (um título que gera direito de crédito ao investidor). Hoje, diz Calil, é possível comprar uma cota de fundo imobiliário desembolsando a partir de R$ 90,00.
— Uma carteira de fundo imobiliário bem montada pode oferecer 0,7% ao mês. É uma espécie de aluguel que o cliente recebe mensalmente , também livre de IR — explica Calil, lembrando que esta aplicação contempla o gosto do brasileiro pelo investimento em imóveis, mas sem as preocupações com o inquilino ou com a manutenção do prédio ou do galpão.
Fonte: “O Globo”
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