Na semana passada, um grupo de dez empreendedores brasileiros selecionados pelo programa TechMission fez uma visita ao Vale do Silício, nos Estados Unidos. O grupo conheceu empresas como o Airbnb e a SambaTV, fundos de investimentos de risco, como o Google Ventures, além da universidade de Stanford. O programa é organizado pela rede +Innovators e tem apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil). O site de NEGÓCIOS pediu que eles registrassem as experiências mais importantes da viagem. Também sugeriu que anotassem perguntas surpreendentes que ouvissem dos investidores. Confira, a seguir, trechos dos relatos.
Tiago Dalvi, da Olist
“Foi a primeira vez que participei de algo assim. Vimos que investimento se consegue com relacionamento. Cada encontro com um investidor tem que ser um pouco melhor do que o anterior. Tem que ser uma curva ascendente. A conversa que tivemos naTalkDesk [startup cujo mote é “crie um call center em 5 minutos”] foi muito boa, vimos que é possível reconstruir tudo do zero, depois de passar por altos e baixos, sem muitas expectativas. Foi bacana ver como os fundadores se posicionam para os investidores, construindo todo o business antes de apresentá-lo.”
Diego Ximenes, da 99Jobs
“A gente fica imerso na operação diária da empresa, por isso foi importante ver como eles organizam o tempo durante a semana para conseguir também pensar no futuro, para saber se o produto não será engolido pela necessidade urgente de obter receita. Planejamento de longo prazo é importante. Me surpreendeu também o nível de conexão que a +Innovators [iniciativa que levou o grupo aos EUA] tem nos Estados Unidos, com aceleradoras e fundos de investimento. É algo ao qual não teríamos acesso se não fosse por essa iniciativa.”
Paulo Fernandes Garcia Neto, da Infoprice
“Uma coisa óbvia e gritante é a qualidade do espaço de trabalho e a qualidade de vida dos funcionários. É muito diferente do que se vê no Brasil. Tem chocolate de graça e um espaço bonito. No fim do dia você vê pessoas felizes, que trabalham por menos tempo do que no Brasil, mas de uma forma mais produtiva. Uma qualidade de vida agradável se converte em resultado. Percebi também que temos que “desafogar” um pouco. Às vezes, a gente se esquece de olhar para a frente, porque passa o tempo todo resolvendo problemas do dia a dia.”
Ariel Alexandre, da Reminds
“Foi interessante a conversa com o pessoal do TalkDesk. Falamos sobre como lidar com o crescimento da empresa, depois que ela passa a valer milhões de dólares. Isso nos enriqueceu muito. Os empreendedores brasileiros precisam se unir muito para criar um ecossistema semelhante ao de São Francisco. Também fiquei impressionado com o nível das perguntas e o amadurecimento dos empreendedores brasileiros. Mudou muito nos últimos anos.”
Josemando Sobral, do Colab
“Ao longo da viagem, percebi que não existe uma fórmula para o sucesso. Ao conhecer os fundadores do TalkDesk e do SambaTV, vi dois perfis bem diferentes de empreendedores. Um bem introvertido e outro extrovertido, um showman. E os dois chegaram lá, construíram empresas bem-sucedidas. Também me chamou a atenção a visão de produto que eles tinham. Eles sabiam onde queriam chegar, sabiam que o produto era o “filho” deles.”
Márcio de Souza Ferreira, da One Match
“Descobri que as pessoas são a chave de tudo. E que há um ciclo: essas grandes empresas trazem as pessoas certas, para fazer um produto certo, para conseguir a escalabilidade certa, para manter um networking certo e achar os investidores certos. Aprendi que é muito importante você manter uma relação saudável com a comunidade empreendedora, mas vi também que é difícil ter isso no Brasil, porque falta encontrar as pessoas certas e gerar esse mesmo ciclo.”
Marcos Vieira Célio, do NamoroOnline
“Muitas pessoas dizem que não existe receita pronta para o sucesso. Mas para algumas coisas existe, sim. É o caso do Airbnb e o ‘product management’ deles. Eu nunca tinha imaginado uma administração de produto e de processos igual à que eles fazem. Tem também a questão cultivar o relacionamento com investidores e outros empreendedores. Essa troca é a coisa mais importante que temos que levar na bagagem. A gente precisa dar continuidade a essa rede. Isso é o que falta no Brasil.”
Matheus Pinho, da MUMA
“Achei importante saber que as empresas estão abertas a compartilhar suas experiências com outras startups. Grandes empresas nascem a partir disso, como vimos na Galvanize. Outra coisa importante foi perceber que não tem problema ser o fundador e não ser o CEO da empresa. Isso para mim era um dilema e me fez perceber que quero ter meu foco todo voltado para o produto. Muitas vezes, você está envolvido com a operação, tentando melhorar as métricas financeiras, e acaba cuidando mal do seu “filho”, que é o produto. A experiência foi incrível. Percebi que preciso melhorar o pitch, refletir mais sobre a empresa, porque às vezes você tem a ideia perfeita sobre o negócio na cabeça, mas não sabe como expressá-la.”
Bruna Bittencourt, da Emotion.me
“Para quem já está há algum tempo nesse mercado, uma coisa que me impressionou é que, ao fazer essa conexão de culturas, foi possível perceber o quanto os empreendedores no Vale do Silício são resilientes. Essa é uma das características mais preciosas do empreendedor. Na SambaTV, vimos um fundador muito resiliente em seu trabalho. E isso se traduz no quanto você vai investir de sua energia nisso. Ninguém ali cria um negócio para estar mais ou menos dentro dele.”
André Pascowitch, do Almanaque do Timão
“A imersão foi muito enriquecedora para aprendermos sobre técnicas de relacionamento com os investidores do Vale do Silício, sobre como você se aproxima deles. A verdade é que não existe uma cartilha para isso.”
As perguntas
1 – O negócio tem a ver com você? Você entende o problema que sua empresa quer resolver? Passa noites sem dormir por causa dele? É um apaixonado por tentar resolver isso?
(Bedy Yang, sócia da 500 Startups e fundadora da +Innovators.Pergunta feita a Matheus Pinho, da MUMA)
2 – Você está resolvendo um problema local? Sente que seus clientes estão safisfeitos e amando você por isso?
(Mariana Donangelo, da equipe de investidores da Accel Partner. Pergunta feita a André Pascowitch, do Almanaque do Timão)
3 – Sua empresa tem capacidade de ser a líder desse mercado?
(Mariana Donangelo, da equipe de investidores da Accel Partner. Pergunta feita a Paulo Fernandes Garcia Neto, da Infoprice)
4 – Você sabe qual é o market cap [o valor de mercado] do seu principal concorrente nos Estados Unidos?
(Santiago Subotovsky, sócio na Emergence Santiago. Pergunta feita a Diego Ximenes, do 99jobs)
5 – Quando eu encontrá-lo no ano que vem, que novidade você gostaria de me contar sobre sua empresa?
(Allen Taylor, diretor administrativo da Endeavor. Pergunta feita a Bruna Bittencourt, da Emotion.me)
6 – Por que você pensa em levantar dinheiro com investidores se o seu negócio é lucrativo e está crescendo?
(Santiago Subotovsky, sócio na Emergence Santiago. Pergunta feita a Marcos Vieira Celio, do NamoroOnline)
7 – Qual é o seu background? Seu negócio anterior quebrou? Que lição você tirou a partir daí?
(Mariana Donangelo, da equipe de investidores da Accel Partner. Pergunta feita a Ariel Alexandre Silva, da Reminds)
8 – Qual é o seu objetivo com a empresa? Ganhar dinheiro e ter uma vida tranquila ou transformar seu negócio em algo maior do que você?
(Allen Taylor, diretor administrativo da Endeavor. Pergunta feita a todos os empreendedores)
Fonte: Época.
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